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quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Tessituras Tessituras

Publicado em 19/02/2012 às 08:00h por Elizabeth Marinheiro -Campina Grande PB. Enviado pelo Colaborador Dr.Ranulfo Cardoso C.G.PB

Após o aparecimento das obras de Italo Calvino e Beatriz Sarlo, não há como ler o Carnaval que nem ligação entre o literário e a urbs. Mesmo cego, Borges – em seu magnífico Atlas – revisitou inúmeros lugares através da memória.


Claro, a cidade guardará nos seus fluxos mnemônicos aquilo tudo que foi destruído pelo “progresso”... A destruição traz o simulacro elaborado pelas redes sociais ou sobrevive em cartões-postais. Daí, a semelhança catástrofe versus crescimento citadino. Não se pode escapar!


Entretanto, as substituições do velho pelo novo foram admiravelmente negadas por Kublai Khan, Borges e Marco Polo. Viajores, tenham lido, talvez, Octávio Paz: “Estamos em la ciudad, no podemos salir de ella sin caer en otra, idéntica aunque sea distinta”.


Olho o carnaval carioca e na minha imaginação predominam os ícones campinenses demolidos ou convalescentes. Meu sentir-viajante desloca-se para minha terra natal. É outro o texto-cidade!


Lá está o Campinense Clube dos tempos César Ribeiro e Ruy Silva. Nem é preciso aludir às grandiosas festas organizadas pela dama Heloisa Azevedo. Nem é preciso aludir aos bailes ao som de famosas orquestras.


O carnaval do Campinense é minha utopia. O convívio harmonioso dos seus sócios sinalizava o logos de uma Campina áurea. Ali, um palimpsesto humano emergia das mesas compostas por Maria Julia/Acácio Figueiredo; Alice Téjo, seus filhos, suas filhas; Elzinha/Bento Figueiredo; Nídia/Dagmar Fernandes; os noivos Tereza/Petrônio Figueiredo; Arméle/Inácio Mayer; Dona Cebinha/Dr. Bonald; Sindô Ribeiro e família; Pininha/Ribeirinho; Quininha/César Ribeiro e muitos outros casais de disciplinada folia.


Não poderia esquecer a juventude da época: Hermírio Leite, Figueiredo Agra, Zé Carlos, Leonardo Motta, Valete Donato, Sousa Assis, Aldecir Carvalho, Mairon, Ronaldo Cunha Lima, Chico Maria, Alcebíades, Vilmar Bastos, Hélio Soares, Marzinho, Helio e Drault Farias.


E as fantasias? pontificavam. Nídia Moura – uma legenda – é a síntese das mais brilhantes criações. Marchinhas e sambas que sobrevivem na saudade:
“Oh, jardineira por que estás tão triste/o que foi que te aconteceu/Foi a camélia que caiu do galho/Deu dois suspiros/e depois morreu.....”
“Meu primeiro amor/foi como uma flor/que desabrochou/e depois morreu.......”


Os blocos desdobravam-se no emaranhado de cores e fitas. Um dia, inventamos um “original” figurino: Silêde/Gladys Satyro, Rosa Rios, Sarah Figueiredo, eu e outras, vestidas de diabo com chifres e espeto. Não deu outra... o rigoroso César levantou as máscaras e mandou a gente trocar a roupa: “tanto riso, tanta alegria” e os diabos correndo do salão. Céus!


Outros blocos mediatizavam a luz múltipla do Carnaval: as Enfermeiras – com Julia Rosa, Terezinha, Molina, Rosália, Sarah, Socorro Vasconcelos e eu – despertavam atenções das “esmeraldas”...


Já as viuvinhas do Jeames Dean foram uma simbiose moderna: composto pelos nomes já citados, passaram a intregá-la: as irmãs Cunha Lima, Terezinha e Yone Figueiredo. “Menina vai/com jeito vai/.....” E a gente caía na frevança sem “tomar banho na Barra da Tijuca, nem piquenique no Juá”. A casa nunca caiu, pois restavam o Açude Velho e o Açude de Bodocongó – palco das labirínticas matinais do Clube Aquático.


O espaço da praça Antonio Pessoa (onde residia a Senhora Alice Téjo) era o cenário do tapete vermelho: Rosalice Téjo Di Pace, em carruagem tipo realeza, rumo ao concurso de fantasias. Já Nádia Moura Fernandes, ora ninfa, ora deusa, cumpria idêntico roteiro. O Campinense Clube e seus mágicos concursos infantis!


Minha mente rumina. Choro, as mãos demolidoras. O olhar disfórico é produto in praesentia. Entre realidade e mito não me encontro. O cheiro do carpem diem foi trocado pelo fazer escatológico. Fica a sensação da perda desgostosa: “até as viuvinhas do artista Jeames Dean” já não aparecem incorporadas... E o corso, com Seu Supino, vai se evadindo pelo “crime-delírio”.


Ao acompanhar o carnaval do Rio de Janeiro, tento parafrasear Eduardo Lourenço quando se refere ao José Miguéis: não sou estrangeira, porém os horizontes mesquinhos e mediocres me sufocam.


Desloco-me para a Fundição Progresso onde se realizou um concurso de marchinhas em homenagem ao Mário Lago. Comungo com Darcy Maravilha e Sérgio Foleado:


“Quando a idade chega
Tudo dói, dói, dói, dói
Dói, dói, dói
Dói a cabeça, dói o braço, a corcunda
Dói o peito, dói a bunda
Mesmo assim quero viver
Eu estou velho
Mas cheio de energia
Vou cair nessa folia
Até o dia amanhecer.

Carnaval! Um bloco de macacão, com propaganda da firma Raimundo Alves, foi fazer uma visitinha à mãe do patrono. Disseram: “ela não está”. Mas, Terezinha (irmã de João) foi tomar um gole d’água lá por dentro. Quando abriu a geladeira teve um susto: Dona Sinhá Alves estava atrás da porta. Terezinha correu...

Seu Supino convoca e o bloco saiu cantando: “Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil.....”

Onde estarão as maravilhas do carnaval campinense? Ao meu leitor, abreijos em serpentinas.

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