sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

PÁGINA 21... ANO V: Em RECIFE

PÁGINA 21... ANO V: Em RECIFE: A cidade caminha com os homens, como as pedras com o vento, como o sistema de planetas. Recife, como dizia meu amigo Orlei Mesquita,p...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Crônica de Vinícius a Rubem Braga

Entre as lágrimas do tempo. Digam-lhe que os tempos estão duros Falta água, falta carne, falta às vezes o ar: há uma angústia Mas fora isso vai-se vivendo. Digam-lhe que é verão no Rio E apesar de hoje estar chovendo, amanhã certamente o céu se abrirá de azul Sobre as meninas de maiô. Digam-lhe que Cachoeiro continua no mapa E há meninas de maiô, altas e baixas, louras e morochas E mesmo negras, muito engraçadinhas. Digam-lhe, entretanto Que a falta de dignidade é considerável, e as perspectivas pobres Mas sempre há algumas, poucas. Tirante isso, vai tudo bem No Vermelhinho. Digam-lhe que a menina da Caixa Continua impassível, mas Caloca acha que ela está melhorando Digam-lhe que o Ceschiatti continua tomando chope, e eu também Malgrado uma avitaminose B e o fígado ligeiramente inchado. Digam-lhe que o tédio às vezes é mortal; respira-se com a mais extrema Dificuldade; bate-se, e ninguém responde. Sem embargo Digam-lhe que as mulheres continuam passando no alto de seus saltos, e a moda das saias curtas E das mangas japonesas dão-lhes um novo interesse: ficam muito provocantes. O diabo é de manhã, quando se sai para o trabalho, dá uma tristeza, a rotina: para a tarde melhora. Oh, digam a ele, digam a ele, a meu amigo Rubem Braga Correspondente de guerra, 250 FEB, atualmente em algum lugar da Itália Que ainda há auroras apesar de tudo, e o esporro das cigarras Na claridade matinal. Digam-lhe que o mar no Leblon Porquanto se encontre eventualmente cocô boiando, devido aos despejos Continua a lavar todos os males. Digam-lhe, aliás Que há cocô boiando por aí tudo, mas que em não havendo marola A gente se agüenta. Digam-lhe que escrevi uma carta terna Contra os escritores mineiros: ele ia gostar. Digam-lhe Que outro dia vi Elza-Simpatia-é-quase-Amor. Foi para os Estados Unidos E riu muito de eu lhe dizer que ela ia fazer falta à paisagem carioca Seu riso me deu vontade de beber: a tarde Ficou tensa e luminosa. Digam-lhe que outro dia, na Rua Larga Vi um menino em coma de fome (coma de fome soa esquisito, parece Que havendo coma não devia haver fome: mas havia). Mas em compensação estive depois com o Aníbal Que embora não dê para alimentar ninguém, é um amigo. Digam-lhe que o Carlos Drummond tem escrito ótimos poemas, mas eu larguei o Suplemento. Digam-lhe que está com cara de que vai haver muita miséria-de-fim-de-ano Há, de um modo geral, uma acentuada tendência para se beber e uma ânsia Nas pessoas de se estrafegarem. Digam-lhe que o Compadre está na insulina Mas que a Comadre está linda. Digam-lhe que de quando em vez o Miranda passa E ri com ar de astúcia. Digam-lhe, oh, não se esqueçam de dizer A meu amigo Rubem Braga, que comi camarões no Antero Ovas na Cabaça e vatapá na Furna, e que tomei plenty coquinho Digam-lhe também que o Werneck prossegue enamorado, está no tempo De caju e abacaxi, e nas ruas Já se perfumam os jasmineiros. Digam-lhe que têm havido Poucos crimes passionais em proporção ao grande número de paixões À solta. Digam-lhe especialmente Do azul da tarde carioca, recortado Entre o Ministério da Educação e a ABI. Não creio que haja igual Mesmo em Capri. Digam-lhe porém que muito o invejamos Tati e eu, e as saudades são grandes, e eu seria muito feliz De poder estar um pouco a seu lado, fardado de segundo-sargento. Oh Digam a meu amigo Rubem Braga Que às vezes me sinto calhorda mas reajo, tenho tido meus maus momentos Mas reajo. Digam-lhe que continuo aquele modesto lutador Porém batata. Que estou perfeitamente esclarecido E é bem capaz de nos revermos na Europa. Digam-lhe, discretamente, Que isso seria uma alegria boa demais: que se ele Não mandar buscar Zorinha e Roberto antes, que certamente Os levaremos conosco, que quero muito Vê-lo em Paris, em Roma, em Bucareste. Digam, oh digam A meu amigo Rubem Braga que é pena estar chovendo aqui Neste dia tão cheio de memórias. Mas Que beberemos à sua saúde, e ele há de estar entre nós O bravo Capitão Braga, seguramente o maior cronista do Brasil Grave em seu gorro de campanha, suas sobrancelhas e seu bigode circunflexos Terno em seus olhos de pescador de fundo Feroz em seu focinho de lobo solitário Delicado em suas mãos e no seu modo de falar ao telefone E brindaremos à sua figura, à sua poesia única, à sua revolta, e ao seu cavalheirismo Para que lá, entre as velhas paredes renascentes e os doces montes cônicos de feno Lá onde a cobra está fumando o seu moderado cigarro brasileiro Ele seja feliz também, e forte, e se lembre com saudades Do Rio, de nós todos e ai! de mim. Rubem Braga (Cachoeiro de Itapemirim, ES, 1913 - Rio de Janeiro, RJ, 1990) foi jornalista e escritor. Clarice Lispector certa vez o definiu como "o inventor da crônica", gênero no qual ele foi um mestre absoluto. Seu primeiro livro, O Conde e o Passarinho, foi publicado em 1936. Como jornalista, exerceu as funções de repórter, redator, editorialista e cronista em jornais e revistas do Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife. Foi correspondente de guerra do Diário Carioca na Itália, quando escreveu o livro Com a FEB na Itália (1945). Fundou com Fernando Sabino e Otto Lara Resende, em 1968, a célebre editora Sabiá. Grande amigo de Vinicius de Moraes, Rubem Braga escreveu a orelha da primeira edição de sua Antologia poética (Rio de Janeiro: A Noite, 1954).* *O texto de R. B. encontra-se integralmente transcrito na nota da Antologia.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Chac Mool, de Car­los Fuentes publicado em contos O conto Chac Mool é considerado uma das obras-primas da ficção moderna

O escritor mexicano Car­los Fuentes, um dos autores mais prolíficos da literatura latino-americana, morreu na terça-feira, 15 de maio, na Cidade do México, aos 83 anos, em decorrência de complicações cardíacas. Crítico mordaz da política mexicana e autor de mais de 50 obras, entre romances, ensaios, peças teatrais e contos, recebeu o Prêmio Cervantes de literatura em 1987 e o Príncipe de Asturias em 1994. Seus livros mais conhecidos são “A Morte de Artemio Cruz” (1962); “Aura” (1962); “Terra Nostra” (1975) e “Gringo Velho” (1985). O conto “Chac Mool”, publicado nesta edição, é considerado uma das obras-primas da literatura latino-americana. Carlos Fuentes Faz pouco tempo, Filiberto morreu afogado em Acapulco. Aconteceu na Semana Santa. Apesar de ter sido mandado embora do emprego na Se­cretaria, Filiberto não pôde resistir à tentação burocrática de ir, como todos os anos, à pensão alemã, comer o chucrute adocicado pelos suores da cozinha tropical, dançar o Sábado de Aleluia no La Quebrada e se sentir “gente conhecida” no escuro anonimato vespertino da praia de Hornos. Claro, já sabíamos que na sua juventude tinha nadado bem; mas agora, aos quarenta, e tão abatido como se encontrava, tentar atravessar, à meia-noite, o extenso trecho entre Caleta e a ilha da Ro­queta!... Frau Müller não deixou que fosse velado, apesar de ser um freguês antigo, na pensão; pelo contrário, essa noite organizou um baile no terraço sufocado, enquanto Filiberto esperava, muito pálido dentro de sua caixa, que saísse o caminhão matutino do terminal, e passou lá, acompanhado de caixas e fardos, a primeira noite da sua nova vida. Quando cheguei, muito cedo, para cuidar do embarque do féretro, Filiberto estava embaixo de um túmulo de cocos: o motorista disse que o colocássemos rapidamente sob o toldo e o cobríssemos com lonas, para não espantar os passageiros, e que por favor não trouxéssemos azar à viagem. Saímos de Acapulco na hora da brisa da manhã. No percurso até Tierra Colorada nasceram o calor e a luz. Enquanto comia ovos e chouriço, abri o cartapácio de Filiberto, que tinha apanhado no dia anterior, junto com outros pertences, na pensão dos Müller. Duzentos pesos. Um jornal velho da cidade de México. Volantes de loteria. A passagem de ida — só de ida? E o caderno barato, de folhas quadriculadas e capas de papel mármore. Arrisquei-me a ler o caderno, apesar das curvas, do fedor a vômito e de certo sentimento natural de respeito pela vida privada do meu defunto a­migo. “Recordaria — sim, co­meçava assim — nosso cotidiano labor no escritório; talvez soubesse, no final, por que foi rebaixado, esquecendo seus deveres, por que ditava ofícios sem sentido, nem número, nem ‘Sufrágio Efetivo Não Reeleição’”. Por que, enfim, foi afastado, esquecia a pensão, sem respeitar as hierarquias. “Hoje fui acertar o assunto da minha pensão. O bacharel, amabilíssimo. Saí tão feliz que resolvi gastar cinco pesos numa confeitaria. É a mesma que frequentávamos quando jovens e aonde agora não vou mais, porque me lembra que aos vinte anos podia me dar a mais luxos do que aos quarenta. Naquela época estávamos todos num mesmo plano, teríamos rejeitado com energia qualquer opinião pejorativa a respeito dos nossos colegas; de fato, lutávamos por aqueles que na casa eram questionados pela sua baixa extração ou falta de elegância. Eu sabia que muitos deles (talvez os mais humildes) chegariam longe e aqui, na escola, iam se forjar as amizades duradouras, em cuja companhia cursaríamos o mar bravio. Não, não foi assim. Não houve regras. Muitos dos humildes ficaram por ali, muitos chegaram acima do que podíamos prognosticar naquelas fogosas, amáveis tertúlias. Outros, que parecíamos prometer tudo, ficamos na metade do caminho, destripados num exame extracurricular, isolados por uma vala invisível dos que triunfaram e dos que nada atingiram. Enfim, hoje tornei a sentar-me nas cadeiras modernizadas — também há, como barricada de uma invasão, uma máquina de refrigerantes — e pretendi ler expedientes. Vi muitos antigos colegas, mudados, amnésicos, retocados de luz de neon, prósperos. Com a confeitaria que quase não reconhecia, com a própria cidade, tinham ido se cinzelando num ritmo diferente do meu. Não, já não me reconheciam; ou não queriam me reconhecer. No máximo — um ou dois — uma mão gorda e rápida sobre o ombro. Oi, velho, como vai! Entre eles e mim interferiam os dezoito buracos do Country Club. Disfarcei-me atrás das papeladas de oficio. Desfilaram na minha memória os anos das grandes ilusões, dos prognósticos felizes e, também, todas as omissões que impediram sua realização. Senti a angústia de não poder levar as mãos ao passado e juntar os pedaços de algum quebra-cabeça abandonado; mas a arca dos brinquedos vai sendo esquecida e, no final, quem saberá para onde foram os soldadinhos de chumbo, os cascos, as espadas de madeira? As fantasias tão queridas não passaram disso. E, no entanto, houve constância, disciplina, apego ao dever. Não era suficiente, ou sobrava? Em algumas ocasiões me assaltava a lembrança de Rilke. A grande recompensa da aventura da juventude deve ser a morte; jovens, devemos partir com todos nossos segredos. Hoje, não teria que voltar o olhar para as cidades de sal. Cinco pesos? Dois de gorjeta.” “Pepe, além da sua paixão pelo direito mercantil, gosta de teorizar. Ele me viu sair da catedral, e juntos nos encaminhamos para o palácio. Ele é incréu, mas isso não lhe basta; em meio quarteirão teve que fabricar uma teoria. Que se eu não fosse mexicano, não adoraria a Cristo e — Não, olha, parece evidente. Chegam os espanhóis e te propõem adorar um Deus morto feito um coágulo, com um lado ferido, cravado numa cruz. Sacrificado. Ofertado. Que coisa mais natural do que aceitar um sentimento tão próximo a todo teu cerimonial, a toda tua vida?... Imagina o contrário, que o México tivesse sido conquistado por budistas ou por maometanos. Não é concebível que nossos índios venerassem um indivíduo que morreu de indigestão. Mas um Deus a quem não basta que se sacrifiquem por ele, mas que inclusive se entrega para que lhe arranquem o coração. Caramba! Xeque-mate a Huit­zilopochtli! O cristianismo, no seu sentido cálido, sangrento, de sacrifício e liturgia, se torna um prolongamento natural e novo da religião indígena. Os aspectos caridade, amor e o outro lado do rosto, no entanto, são rechaçados. E tudo no México é isso: é preciso matar os homens para poder acreditar neles.” “Pepe conhecia minha inclinação, quando jovem, por certas formas da arte indígena mexicana. Eu coleciono estatuetas, ídolos, vasos. Meus fins de semana passo em Tlaxcala ou em Teotihuacán. Talvez por isso ele goste de relacionar todas as teorias que elabora para meu consumo com esses temas. Na verdade procuro uma réplica razoável do Chac Mool há muito tempo, e hoje Pepe me informa sobre um lugar na Lagunilla onde vendem um deles em pedra e que parece ser barato. Vou no domingo.” “Um engraçadinho pintou de vermelho a água do garrafão no escritório, com a consequente perturbação das atividades. Fui obrigado a informar o diretor, que se limitou a rir muito. O culpado aproveitou-se da circunstância para fazer sarcasmos à minha custa o dia inteiro, todos em torno da água. Ch...” “Hoje, domingo, aproveitei para ir à Lagunilla. Encontrei Chac Mool na barraca que Pepe me indicara. Trata-se de uma peça belíssima, de tamanho natural, e apesar de o marchand me assegurar sua autenticidade, eu duvido. A pedra é corrente, mas isso não diminui a elegância da postura ou a solidez do bloco. O vendedor desleal esfregara molho de tomate na barriga do ídolo para convencer os turistas da sangrenta autenticidade da escultura.” “O transporte para casa me custou mais do que a aquisição da peça. Porém já está aqui, no momento, no porão, enquanto reorganizo meu quarto de troféus, a fim de lhe dar acolhida. Essas figuras precisam do sol vertical e fogoso; esse foi seu elemento e condição. Perde muito meu Chac Mool na escuridão do porão; ali, ela é uma simples forma agonizante, e sua expressão parece me cobrar que estou lhe negando a luz. O comerciante tinha uma lâmpada que iluminava verticalmente a escultura, recortando todas as suas arestas e proporcionando-lhe uma expressão mais amável. Vou ter que imitar seu exemplo.” “Amanheci com o encanamento de água com defeito. Incauto, deixei correr da cozinha a água, que transbordou, correu pelo chão e chegou até o porão, sem que eu percebesse. O Chac Mool resiste à umidade, mas minhas malas sofreram. Tudo isso, num dia de muito trabalho, me obrigou a chegar tarde ao escritório.” “Chegaram, por fim, para consertar o encanamento. As malas, tortas. E o Chac Mool, com lama na base.” “Acordei à uma da ma­nhã: tinha ouvido um gemido terrível. Pensei em assalto. Só imaginação.” “Os gemidos noturnos têm continuado. Não consigo identificar a causa, estou nervoso. E, infelizmente, o encanamento voltou a dar problemas, e as chuvas que não param alagaram o porão.” “O bombeiro não aparece; estou desesperado. Do De­partamento do Distrito Federal melhor nem falar. É a primeira vez que os ralos não dão conta da água das chuvas que acaba entrando no meu porão. Os gemidos pararam: vai uma coisa pela outra.” “O porão foi seco, e Chac Mool está coberto de lama. Ficou com uma aparência grotesca, porque toda a massa da escultura parece agora sofrer de erisipela verde, exceto os olhos que permaneceram de pedra. Vou aproveitar o domingo para raspar o musgo. Pepe aconselhou-me mudar para um apartamento, morar num andar alto, para evitar essas tragédias aquáticas. Mas não posso deixar este casarão, com certeza é muito grande para uma pessoa só, um pouco lúgubre na sua arquitetura porfiriana. Porém é a única herança e lembrança dos meus pais. Não consigo me imaginar olhando para uma sinfonola no porão, e uma loja de decorações no térreo.” “Fui raspar o musgo do Chac Mool com uma espátula. Parecia já estar fazendo parte da pedra; foi um trabalho de mais de uma hora, e só às seis da tarde consegui acabar. Não se distinguia muito bem na penumbra; quando terminei o trabalho, toquei com a mão os contornos da pedra. Cada vez que a tocava, o bloco parecia amolecer. Não podia acreditar: já estava ficando como uma massa. Esse mercador de Lagunilla me enganou. Sua escultura pré-colombiana é de puro gesso, e a umidade vai acabar com ela. Joguei por cima uns panos; amanhã vou levá-la para o quarto de cima, antes que sofra uma deterioração total.” “Os panos caíram no chão, incrível! Voltei a apalpar o Chac Mool. Ele endureceu, mas a consistência da pedra não volta. Não quero escrever isto: há no seu torso algo parecido à textura da carne; ao apertar-lhe os braços sinto-os como se fossem de borracha, percebo que algo circula por essa figura reclinada... À noite desci novamente. Não resta nenhuma dúvida: Chac Mool tem pelos nos braços.” “Nunca me tinha acontecido uma coisa dessas. Enrolei os assuntos do escritório, passei uma ordem de pagamento que não estava autorizada, e o diretor teve que me chamar a atenção. Talvez até tenha sido indelicado com meus colegas. Vou ter que ver um médico, saber se é a minha imaginação ou delírio, o que é, e talvez me desfazer desse maldito Chac Mool.” Até aqui a caligrafia de Filiberto era a antiga, a que tantas vezes vi na forma, nos memorandos, larga e oval. A da entrada de 25 de agosto, no entanto, parecia escrita por uma outra pessoa. Umas vezes como de criança, separando com esforço cada letra; outras, nervosa, até se diluir no incompreensível. Passaram-se três dias sem nada, e a história continua: “Tudo é tão natural; e logo se crê no real... mas isto é real, mais do que já foi acreditado por mim. Se é real um garrafão, e mais ainda, porque percebemos melhor sua existência, ou existir, se um gozador pinta a água de vermelho... Real e efêmero absorver o fumo do cigarro, real imagem monstruosa num espelho de circo, reais não são todos os mortos, presentes e esquecidos?... Se, por acaso, um homem atravessasse o paraíso num sonho, e lhe dessem uma flor como prova de que tinha estado lá, e se, ao acordar, ele encontrasse essa flor na sua mão... então, o quê?... Realidade: certo dia quebraram-na em mil pedaços, a cabeça foi para lá, a cauda para cá e nós não conhecemos mais que uma das partes soltas do seu grande corpo. Oceano livre e fictício, só real quando fica preso no rumor dum caracol marinho. Até três dias atrás, minha realidade o era até ter-se apagado hoje; era movimento reflexo, rotina, memória, cartapácio. E depois, como a terra que um dia treme para nos recordar seu poder, ou como a morte que chegará um dia, me recriminando o esquecimento de toda a vida, apresenta-se outra realidade: sabíamos que estava ali, assustadora; agora sacode-nos para se fazer viva e presente. Pensei, novamente, que se tratava de pura imaginação: o Chac Mool, mole e elegante, tinha mudado de cor numa noite; amarelo, quase dourado, parecia mostrar-me que era um deus, por enquanto frouxo, com os joelhos um pouco menos tensos que anteriormente, com o sorriso mais benévolo. E ontem, por fim, um despertar so­bressaltado, com essa certeza espantosa de que há duas respirações na noite, de que na escuridão batem mais pulsos do que o próprio. Sim, ouviam-se passos na escada. Pesadelo. Voltar a dormir... Não sei quanto tempo tentei dormir. Quando voltava a abrir os olhos, ainda não tinha amanhecido. O quarto cheirava a horror, a incenso e a sangue. Com o olhar negro, percorri a recâmara, até me fixar em dois orifícios de luz piscante, em duas flâmulas cruéis e amarelas.” “Quase sem fôlego, acendi a luz.” “Ali estava Chac Mool, erguido, sorridente, ocre, com sua barriga encarnada. Deixaram-me paralisado os dois olhinhos quase oblíquos, bem junto ao cavalete do nariz triangular. Os dentes inferiores mordiam o lábio superior, imóveis; só o brilho do panelão quadrado sobre a cabeça anormalmente volumosa, denunciava vida. Chac Mool avançou em direção à minha cama; então começou a chover.” Lembro que pelo final de agosto, Filiberto foi despedido da Secretaria, com uma recriminação pública do diretor e rumores de loucura e até de roubo. Nisso não acreditei. O que pude ver foram uns ofícios irracionais, perguntando ao oficial maior se a água podia ser cheirada, oferecendo seus serviços ao secretário de Recursos Hídricos para fazer chover no deserto. Não sabia o que pensar sobre tudo isso; achei que as chuvas, excepcionalmente fortes nesse verão, tinham enervado meu amigo. Ou que a vida naquele casarão antigo, estava lhe provocando alguma depressão moral, com a metade dos quartos fechados e empoeirados, sem empregados nem vida familiar. As notas seguintes são de fins de setembro: “Chac Mool consegue ser simpático quando quer... 'um glub-glub de água encantada'... Conhece histórias fantásticas sobre a monção, as chuvas equatoriais e o castigo dos desertos; cada planta sai da sua paternidade mítica: o salgueiro é sua filha transviada; os lótus, suas crianças mimadas; sua sogra, o cacto. O que não consigo suportar é o cheiro, extra-humano, que emana dessa carne que não é carne, das sandálias flamantes da velhice. Com riso estridente, Chac Mool revela como foi descoberto por Le Plongeon e colocado fisicamente em contato com homens de outros símbolos. Seu espírito viveu no cântaro e na tempestade, com naturalidade; outra coisa é sua pedra, arrancada do seu esconderijo maia no qual jazia; é artificial e cruel. Creio que Chac Mool nunca perdoará isso. Ele sabe da iminência do fato estético.” “Tive que providenciar saponáceo para ele lavar o ventre por onde o mercador, pensando ser ele asteca, passou molho ketchup. Não me pareceu gostar da minha pergunta sobre seu parentesco com Tlaloc, e, quando fica bravo, seus dentes, que já são repulsivos, se afinam e brilham. Os primeiros dias, desceu ao sótão para dormir; a partir de ontem, dorme na minha cama.” “Hoje começou a temporada da seca. Ontem, da sala onde durmo agora, ouvi os mesmos gemidos roucos do princípio, seguidos de ruídos terríveis. Subi; entreabri a porta do quarto: Chac Mool estava quebrando os abajures, os móveis; quando me viu, pulou em direção à porta com as mãos arranhadas, e apenas consegui fechar e correr para me esconder no banheiro. Pouco depois desceu, ofegante, e pediu água; deixa o dia todo as torneiras abertas, não fica um centímetro seco dentro da casa. Eu preciso dormir muito bem agasalhado, e tenho pedido a ele para não molhar mais a sala.” “Chac inundou hoje a sala. Exasperado, disse-lhe que ia devolvê-lo ao mercado de Lagunilla. Tão terrível quanto sua risadinha — horrorosamente diferente de qualquer risada de homem ou de animal — foi a palmada que me deu, com esse seu braço carregado de pesados braceletes. Tenho que reconhecer: sou seu prisioneiro. Minha ideia original era bem diferente: eu dominaria Chac Mool, como se domina um brinquedo; era, por acaso, um prolongamento da minha segurança na infância; mas a infância — quem falou isso? — é o fruto comido pelos anos, e eu não tinha percebido... Pegou minhas roupas e veste a bata quando começa a lhe brotar o musgo verde. Chac Mool está acostumado a que lhe obedeçam, desde sempre e para sempre; eu, que nunca tive que mandar, só posso me dobrar diante dele. Enquanto não chover — e o seu poder mágico? — viverá colérico e irritadiço.” “Hoje decidi que de noite Chac Mool sai da casa. Sempre, ao escurecer, canta uma toada ruidosa e antiga, mais ve­lha que próprio canto. Lo­go cessa. Ba­ti vá­rias ve­zes na sua porta e, como não respondesse, tive a coragem de entrar. Eu não tinha retornado ao quarto desde o dia em que a estátua tentou me agredir: está em ruínas, é ali que se concentra aquele cheiro de incenso e sangue que tem flutuado pela casa. Mas atrás da porta, há ossos de cachorros, de ratos e de gatos. Tudo isso de rouba durante a noite para se sustentar. Isso explica os latidos espantosos das madrugadas.” “Fevereiro, seco. Chac Mool vigia meus passos; tem-me obrigado a telefonar para urna pensão para que diariamente me entreguem urna marmita. Mas o dinheiro levado do escritório já está acabando. Aconteceu o inevitável: a partir do dia primeiro, desligaram a água e a luz por falta de pagamento. Mas Chac Mool descobriu uma fonte pública a dois quarteirões daqui; todos os dias eu faço dez ou doze viagens em busca de água, e ele me observa do terraço. Diz que se eu tiver a intenção de fugir vai me fulminar: também é Deus do Raio. O que ele não imagina é que estou sabendo das suas escapulidas noturnas... Corno falta luz, vou me deitar às oito. Já deveria estar acostumado ao Chac Mool, mas faz pouco tempo, na escuridão, topei com ele na escada, senti seus braços gelados, as escamas de sua pele renovada e me deu vontade de gritar.” “Se não chove rápido, o Chac Mool vai se converter novamente em pedra. Tenho reparado que sente dificuldades para se mexer; às vezes fica encostado durante horas, paralisado, apoiado na parede e parece ser, de novo, um ídolo inerme, por mais Deus da tempestade e do trovão que seja considerado. Mas esses repousos lhe proporcionam novas forças para me humilhar, me arranhar corno se pudesse arrancar de mim algum líquido da minha carne. Já não acontecem mais aqueles intervalos amáveis durante os quais me contava antigas histórias; creio perceber nele urna espécie de ressentimento concentrado. Também há outros indícios que me preocupam: os vinhos da adega estão quase acabando; Chac Mool acaricia a seda da bata; deseja urna empregada na casa, fez-me ensiná-lo a usar sabonete e loções. Há inclusive algo de velho no seu rosto que antes parecia eterno. Isto pode ser minha salvação: se Chac cai em tentações, se ele se humaniza, provavelmente todos os seus séculos de vida se acumulem num instante e ele caia fulminado pelo poder adiado do tempo. Mas também penso numa coisa terrível: o Chac não gostará que eu assista à sua queda, não aceitará uma testemunha... é possível que ele deseje me matar.” “Aproveitarei hoje a excursão noturna de Chac para fugir. Partirei para Acapulco; vamos ver o que se pode fazer para arrumar trabalho e aguardar a morte de Chac Mool; sim, está próxima; está com cabelos brancos, inchado. Eu preciso pegar sol, nadar e recuperar forças. Sobram-me quatrocentos pesos. Irei à pensão Müller, que é barata e confortável. Que Chac Mool fique dono de tudo: quero ver quanto dura sem meus baldes de água.” Aqui termina o diário de Filiberto. Não quis pensar mais na sua história; dormi até Cuernavaca. Dali para o México tentei dar coerência ao escrito, relacionar aquilo com excesso de trabalho, com alguma causa psicológica. Quando, às nove da noite, chegamos ao terminal, ainda não podia explicar-me a loucura do meu amigo. Contratei uma caminhonete para levar o féretro à casa de Filiberto, e posteriormente organizar o enterro. Antes de conseguir introduzir a chave na fechadura, a porta se abriu. Apareceu um índio amarelo, de bata, com cachecol. Sua aparência não podia ser mais repulsiva; exalava um cheiro de perfume barato, queria cobrir as rugas com o rosto cheio de pó; tinha a boca enlameada de batom mal aplicado, e o cabelo dava a impressão de estar tingido. — Desculpe... não sabia que Filiberto tivesse... — Não faz mal; sei de tudo. Diga aos homens que levem o cadáver para o porão. Conto publicado no livro “Contos Latino-Americanos Eternos”, editora Bom Texto, organização e tradução de Alicia Ramal.

A última entrevista de Jorge Luis Borges

POR CARLOS WILLIAN LEITE EM 31/10/2012 ÀS 04:16 PM publicado em entrevistas “Não criei personagens. Tudo o que escrevo é autobiográfico. Porém, não expresso minhas emoções diretamente, mas por meio de fábulas e símbolos. Nunca fiz confissões. Mas cada página que escrevi teve origem em minha emoção.” Jorge Luis Borges nasceu em 1899 na cidade de Buenos Aires, Argentina, e morreu em Genebra, Suíça, em 1986. Entrelaçando ficção e fatos reais, Borges concentrou-se em temas universais, o que lhe garantiu reconhecimento mundial. É considerado o maior escritor argentino de todos os tempos e um dos mais importantes nomes da história da literatura. Na entrevista, que foi concedida em julho de 1985 ao jornalista Roberto D’Ávila, Jorge Luis Borges fala sobre a infância, a cegueira, a morte. Afirma que o fracasso e o sucesso são impostores. E traduz o seu amor pela literatura em uma frase: “Se recuperasse a visão eu não sairia de casa. Ficaria lendo os muito livros que estão aqui, tão perto e tão longe de mim”. Borges morreria menos de um ano depois de ter concedido a entrevista. Clique no título e vá ao texto original

Famosos sentem a morte do ator e realizador Marcos Paulo - JN

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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Artistas sem trabalho estão a passar fome - JN

Artistas sem trabalho estão a passar fome - JN

Barack Obama reeleito presidente - JN

Barack Obama reeleito presidente - JN
Uno de los acontecimientos importantes de América Latina fue la XVIII Bienal Internacional de Santa Cruz de la Sierra en Bolivia en la que participaron destacados artistas de numerosos países. El tema fue La crueldad. Así explica el acontecimiento su curador Eduardo Ribera Salvatierra . Santa Cruz es hoy el centro neurálgico de la economía boliviana. El creciente consumo es, sin duda, comparable al de otras grandes ciudades del mundo. Ese mercado ha instalado estándares, roles y maneras que rigen y movilizan los deseos de los consumidores. Como indica Beatriz Sarlo, “cuando ni la religión, ni las ideologías, ni la política, ni los viejos lazos de comunidad pueden ofrecer una base de identificación, ni un fundamento suficiente a los valores; allí está el mercado, que nos proporciona algo para reemplazar a los dioses desaparecidos”. Cuando creímos que al fin el cuerpo se había liberado de la cárcel del pecado, un nuevo régimen de control ejerce sobre él un poder aun más invasivo. Por El pais Uruguai Leia Mais clique no título

Morre a cantora Carmélia Alves, Rainha do Baião - Gente - Gazeta do Povo

Morre a cantora Carmélia Alves, Rainha do Baião - Gente - Gazeta do Povo

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

OWALDO FRANÇA JUNIOR

UM ESCRITOR MEMORÁVEl. A mídia leva a esquecê-lo, mas não podemos fazê-lo é preciso revisitá-lo. Clique no título e leiam mais

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Francisco Brennand marcou para o dia 5 de dezembro o vernissage da mostra Pinturas, em domínios próprios, no Espaço Brennand, galeria administrada pela filha do artista plástico, Neném Brennand, em Boa Viagem. A mostra reunirá quadros inéditos do artista, com curadoria de Pedro Frederico.

domingo, 21 de outubro de 2012

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Carla Guagliardi – Os cantos do canto’

A artista expõe oito trabalhos recentes e inéditos, incluindo uma nova versão de uma grande instalação aérea apresentada na Alemanha, “O lugar do ar”. Na gávea Rio até amanhã

VITRINES DO MASP NO METRO SP

Anne Cartault d´Olive Transitar em Suspensão Letícia Rita SUBORDINADO.K.K.K.K.K.K.K.K.K.K.K.K.K. CLIQUE NO TÍTULO E VÁ ATÉ A PÁGINA ORIGINAL

MASP EXPOSIÇÕES

CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORES traz 20 obras do mestre barroco e de artistas por ele influenciados. Até 30/9, no MASP. MICHELANGELO MERISI, dito CARAVAGGIO CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORES Período: 02 de agosto a 30 de setembro de 2012 Passando por diversas fases da vida do gênio, a mostra pode ser divida em três grandes blocos: trabalhos consagrados e conhecidos; novas descobertas; e obras “problema”, que ainda são objeto de estudo. Com curadoria de Fábio Magalhães no Brasil e Giorgio Leone na Itália, a exposição foi idealizada por Rossella Vodret, uma das principais autoridades em Caravaggio na Itália e chefe da Superintendência Especial para o Patrimônio Histórico, Artístico e Etnoantropológico e para o Pólo Museológico da Cidade de Roma. Pela primeira vez fora da Itália, a famosa Medusa Murtola (recentemente identificada como a “Medusa original”) e oRetrato do Cardeal poderão ser vistos de 02 de agosto a 30 de setembro de 2012 no 1º andar do MASP. Para o curador italiano Giorgio Leone essa será oportunidade única para o público brasileiro: “Das obras produzidas por Caravaggio em seus 38 anos de vida, apenas 62 chegaram aos nossos dias”, diz. Caravaggio usava sua técnica para impressionar o espectador: temática do cotidiano italiano de sua época; formato “ao natural” das figuras, à semelhança do espectador; a cena toda retratada em primeiro plano, para envolver emocionalmente quem a olha; fundo neutro ou escuro, destacando o tema representado, contrastando com o forte feixe de luz que iluminava o objeto principal da obra, evidenciando sua técnica do claro-escuro, que tornava tudo mais “real”, mais vivo. No MASP também poderão ser vistos 14 artistas que foram influenciados por Caravaggio. Conhecidos como caravaggescos, cada um deles, utilizava o chiaroscuro de uma maneira particular, de acordo com sua própria cultura. “Dos caravaggescos sempre digo que era uma grande desventura para os artistas da época viver no mesmo período de um gênio. Eram grandes pintores, mas quando se tem o gênio, tudo fica obscurecido. Foi isso o que aconteceu. E é importante contextualizar para que o público compreenda a relação dos artistas da época com Caravaggio”, explica Vodret. Caravaggio tinha um temperamento explosivo. Encrenqueiro, envolveu-se em uma série de brigas e processos jurídicos ao longo de sua vida, tendo que fugir de diversas cidades, inclusive Roma, onde sua cabeça tinha sido posta a prêmio. A despeito de sua vida conturbada, sua técnica ímpar e a maestria com que retratava as cenas e os personagens de suas obras preservam até hoje o encantamento e emoção que causavam no século XVII. Serviço Educativo Como para as demais exposições temporárias e mostras de obras do acervo realizadas pelo MASP, Caravaggio e seus seguidores tem um programa educativo elaborado especialmente para atender aos visitantes, professores e alunos de escolas públicas e privadas. As visitas orientadas são realizadas por uma equipe de profissionais especializados. Informações: agendamento.caravaggio@masp.art.br Informações Gerais CARAVAGGIO E SEUS SEGUIDORES Mostra com 20 obras-primas do mestre barroco e artistas por ele influenciados, os caravaggescos. De 02 de agosto de 2012, quarta-feira, a 30 de setembro de 2012, domingo, no MASP. Av. Paulista, 1578. Acesso a deficientes. Horários: De 3ªs a domingos e feriados, das 10h às 18h. Às 5ªs: das 10h às 20h. A bilheteria fecha meia hora antes. Ingresso: R$ 15,00. Estudante: R$ 7,00. Até 10 anos e acima de 60 anos. Às 3ªs feiras: acesso gratuito. Informações ao público: www.masp.art.br www.twitter.com/maspmuseu www.facebook.com/maspmuseu Tel.: (11) 3251.5644 Informações à imprensa: InterComunique Assessoria de Comunicação Renata Assumpção (masp@comunique.srv.br) Fone: (11) 3812.2780 / 8469.0176

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Vilma Arêas e seus espaços, ventos e terra

Fluminense, estreou na ficção com Partidas (contos, Francisco Alves, 1976). Posteriormente, Aos trancos e relâmpagos (literatura infantil, Scipione, 1988) e A terceira perna (contos, Brasiliense, 1992) mereceram o prêmio Jabuti. Em 2002, Trouxa frouxa (contos) recebeu o prêmio Alejandro José Cabassa (44º aniversário da União Brasileira de Escritores) e, em 2005, Clarice Lispector com a ponta dos dedos (ensaio) recebeu o prêmio APCA, na categoria literatura. Professora titular de literatura brasileira na Unicamp, Vilma Arêas vive há muitos anos em São Paulo . Não sou crítico literário, nem tenho intenções; escrevo sobre o que gosto. Crítico sou de mim e do mundo que me rodeia, mas não da Literatura. Esta, mesmo sendo vida, é um tricô mais complicado. Enfim, vamos ao que nos interessa aqui, o caso de Vilma Arêas, ainda pouco conhecida pelo grande público, o que é uma pena. A professora Vilma Arêas me impressionou com seu livro de contos Vento Sul - Cia das Letras, 2011 - como que trazendo uma nova onda de boa literatura: madura, firme e densa. Esse livro me chega às mãos pelo amigo Fábio Silvestre Cardoso que, junto com Rogério Pereira, fez uma entrevista sobre ela, na revista Rascunho - Curitiba-PR (http://bit.ly/zdvPAJ), por sinal excelente revista de Literatura, senão a melhor que temos. Antes de ler o autor indicado, especulo, cavo, mexo, remexo, busco informações, vou ao “o senhor é meu pastor nada me faltará”, nome dado pelos alunos ao Google, enfim, cato e, daí, me chegam informações importantes como: a autora organizou poemas de uma diva minha, Sophia de Mello B. Andresen, escreveu sobre Clarice Lispector e gosta de Graciliano Ramos! Em seguida, flagro, no Suplemento do Diário Oficial de Pernambuco, uma matéria sobre ela, assinada por Ronaldo Bressane (http://bit.ly/KjE63j), na qual a autora despeja o verbo sobre a literatura como um todo e também sobre si. Muito bem, leio, então, o livro, numa tacada só, num dia de semana à noite. Impressiona-me. Chama-me a atenção seu imaginário, a poesia embutida em sua escrita e seu jeito urbano-rural, coisas, aliás, afastadas dos temas da prosa (refiro-me ao meio rural). Há um não sei quê que me junta a ela, faz-me celebrar com ela suas estórias, chego mesmo a sentir cheiros e texturas em sua escrita. Às vezes, penso que estou lendo uma nordestina das boas, mas qual o quê! Ela é fluminense, de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, e há um cheiro de interior brasileiro em sua escrita... Aí, sim, tudo fica mais claro para mim, e quero vê-la, ouvi-la. Apelo para o YouTube e encontro um pequeno trecho de uma entrevista com Cadão Volpato – Metrópolis, TV Cultura – na qual o entrevistador titubeia alarmantemente frente à simplicidade de Vilma, mas diante do que ouço e do que vejo, apaixono-me por ela. Sou assim... há que me passar o fascínio, como assim também foi com Clarice, Nélida Piñon, Maria do Carmo Barreto Campelo, Sergio Santana, João Gilberto Noll, João Cabral, Guillermo Arriaga, o saudoso Carlos Fuentes e tantos outros. Parto, então, para a leitura de outras obras suas, contos como A Trouxa (2005) e A terceira Perna (1998), em que encontro uma mesma tessitura textual, mas com maturidade diferente. De todo modo, desliza, em sua escritura, a poesia que ela tece opacamente, e em que risca o bordado de sua escrita de ponta a ponta. Em A terceira perna, seu olhar lispectoriano é comprovado já nas citações iniciais, “uma nova terceira perna que em mim renasce fácil como capim” (Clarice Lispector), mas Vilma vai além e convulsiona em destreza nos contos Dó de peito e Seda Pura. No todo dela, admiro seu jeito de falar e suas opiniões face aos grandes da Literatura, que ela traça de modo inteligente, direto e reto, mas densamente, passando por Clarice Lispector - sobre a qual tem uma obra - e fazendo críticas pertinentes a B. Moser, indo a P. Roth, Coetzee etc. Suas imagens, esculpidas nas palavras, no meu imaginário, passam uma serenidade de gente que tem bom faro, que se esfrega ao solo para retirar o fermento de sua escrita e existência. Ela confessa isso nas entrevistas, em sua história, em seu caminhar como pessoa de bom tato e olho fino. Seus contos têm um ar de terra, vindo desses ventos que se espalham em nossas vidas e de que não nos damos conta, o seu tal Vento Sul. Vilma corre manso e largo na sua escrita, sem rococós maiores, mas com estupefaciente exatidão do léxico, do ambiente no qual pinta e põe seus personagens e enredo. A estrutura do seu conto é breve como gosto e, no entanto, ao final, pensamos que lemos um romance, ela dá látex para isso na sua textualidade avantajada. As vozes polifônicas perfilam-se em amontoados de um brilho memorável. Seus contos têm um quê do conto tradicional, na estrutura temporal, mas sem grandes delongas; na verdade, seu conto é uma pintura com bordas de arte abstrata, o que me lembra Sophia de M. Breyner Andresen, que ela tão bem conhece. O livro Vento Sul encontra-se divido em quatro partes que, aliás, não compreendo o porquê, mas, enfim, percebo que nele se misturam contos e quase ensaios, ou poemas de um ar lispectoriano, já que nossa memória é associativa. Confesso que não gosto de tais comparativos, mas, enfim, saiu, está aí! De cara, deparo-me com dois contos seus, Thereza e República Velha, contos que me deixam “embeiçado” pelo estilo, propriedades léxicas e concisão. Há uma poética do rompante que me eletriza na descrição do feminino, do lugar da mulher historicamente neste país, do ideal de amor e companheirismo; mesmo em passagens alucinantes, a autora tece filigranas poéticas com uma malha estética muito poderosa e de fauna inusitada, por sóis, ventos, bichos, gritos. Se, em Thereza, tais fatos exalam as relações maritais, em República Velha, ela retorna para mais poetar: ela enverga o macho e torce-lhe, pelo amor e companhia. A puta não é uma qualquer, é aquela mulher eleita, que tantos querem como a verdadeira puta da vivência, do chamego, do objeto do desejo, da mulher, do homem puto que necessita de outro de sua laia e que, por vezes, não enxergamos, não queremos, ou não podemos. Sei lá o quê: Vilma insinua-me essas questões para o que convier, entre companheiros, é necessário nada e tudo. O macho atende a si e, depois que desmascara a mulher com outro, passado algum tempo, conclui: “[...] Dentro do silêncio que se fez, só quebrado por uns latidos de cachorro ao longe, completou já de pé: -- Puta por puta, fico com ela que já estou acostumado”. Não posso deixar de ler o silêncio cortado por latidos de cachorros, sim, cachorros que a autora nos oferece - leiam como quiserem - e a decisão do outro. Em Habitar, outro conto, a autora é bachelardiana. Lembrei-me da Poética do Espaço, de Gaston Bachelard (1977): “[...] este é o ponto frágil da fantasia, que funda o absurdo, porque no íntimo ele sabe que a vida não vive. Negando a verdade cristalina, fingindo que não vê, parece que respira por um gargalo”. Mas não está só aqui, neste conto. Perfila-se em todos os contos da obra, como antes já anunciei, e isso faz uma trilha com outros contos como: Encontro, Canto noturno de peixes, Zeca e Dedeco e, por fim, um grande conto-poema, O vivo o morto: anotações de uma etnógrafa: ‘[...] A seta está cravada no vazio.... neste ponto se esboça o gesto, abrindo espaço à poesia...” Vilma é uma poeta e tanto e, lembrando minha saudosa Sophia de M. B. Adresen, “Perfeito é não quebrar A imaginária linha Exacta é a recusa E puro é o nojo” (Mar Novo, 1958). Paulo A C Vasconcelos- PauloVas

SOCIEDADE INTERAMERICANA DE IMPRENSA

O que faz a senhora e atriz Regina Duarte,bem como a senhora MARINA LIMA SILVA nesta reunião? Junto a isto tem EL CLARIN, E LÁ NACION de Buenos Aires,será que vieram fazer propaganda da lei dos meios audiovisuais da Argetina e que não querem engolir, e o Estadão está dando força? E Dona Regina ,representa Serra? Será? Será?

Alberto Giacometti: Colección de la Fundación Alberto y Annette Giacometti, París". Inauguración: sábado 13 de octubre, 17 hs. ALBERTO GIACOMETTICOLECCIÓN DE LA FUNDACIÓN ALBERTO Y ANNETTE GIACOMETTI, PARÍS

Próxima exhibición: " Curadora: Véronique Wiesinger Inauguración: sábado 13 de octubre de 2012, 17 hs. Fundación Proa presenta la primera gran retrospectiva en la Argentina consagrada a la obra de Alberto Giacometti (Borgonovo, Suiza, 1901-1966). La exhibición, curada por Véronique Wiesinger, reúne 146 obras realizadas entre 1910 y 1960, provenientes en su mayoría de la Colección de la Fundación Alberto y Annette Giacometti, tres piezas pertenecientes a colecciones privadas de la Argentina y una pieza del Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Organizada por la Fundación Alberto y Annette Giacometti, Base7 Projetos Culturais y Fundación Proa, la exhibición cuenta con el auspicio de Tenaris – Organización Techint. - Alberto Giacometti: Colección de la Fundación Alberto y Annette Giacometti, París constituye una oportunidad excepcional para reunir por primera vez en Sudamérica 146 obras entre esculturas, pinturas, dibujos, grabados y artes decorativas. En todos los aspectos de la producción de Giacometti, la exhibición aborda los principales temas de su reflexión creativa: la formación con Cézanne, la influencia del cubismo, el descubrimiento del arte africano en los años 20, la marca perdurable del pensamiento mágico y del surrealismo, la invención de una nueva representación del ser humano. La búsqueda intelectual de Giacometti lo acercó a los grandes pensadores de su época: André Breton, Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Jean Genet son evocados en la exhibición a través de retratos y de textos. La exhibición también es una ocasión para revisar los encuentros del artista con coleccionistas y mecenas sudamericanos que viajaron a Francia en los años 30 atraídos por la vibrante escena cultural parisina. La primera coleccionista que compró una obra de Giacometti, Tête qui regarde (Cabeza que mira), en 1929, fue una argentina: Elvira de Alvear. Una copia de esta obra se presenta en la exhibición. Giacometti nunca pisó Sudamérica, pese a que el decorador Jean-Michel Frank, con quien trabajó desde 1930, lo invitó a viajar con él a la Argentina. Frank estuvo refugiado en Buenos Aires por un breve período durante la guerra, donde desarrolló una importante actividad de importación de mobiliario y objetos de arte decorativo producidos en París. La exhibición incluye tres de estas piezas que actualmente pertenecen a colecciones privadas de la Argentina. El conjunto de 146 pinturas, esculturas, dibujos, grabados y objetos de arte decorativo, sumado a una rica documentación fotográfica, permite comprender los múltiples aspectos de la obra de Giacometti. La curadora de la exhibición, Véronique Wiesinger, es directora de la Fundación Alberto y Annette Giacometti y autora de la retrospectiva realizada en el Centre Georges Pompidou de París en 2007. El catálogo de la exhibición –un proyecto de Véronique Wiesinger–, es la mayor publicación sobre el artista que se haya editado en la Argentina. Reproducciones de obras de la exhibición, un destacado capítulo de escritos del artista, textos de la curadora y una investigación inédita de Cecilia Braschi acerca de los vínculos entre Giacometti y Sudamérica lo convierten en un material de referencia fundamental en castellano. Fruto de un trabajo de tres años y una estrecha colaboración entre la Fundación Giacometti, la Pinacoteca do Estado de São Paulo, el Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro y Fundación Proa, esta ambiciosa exhibición fue producida por Base7 Projetos Culturais y cuenta con el apoyo de la Embajada de Francia en la Argentina y el auspicio de Tenaris – Organización Techint. En Brasil, la itinerancia en el MAM de Río de Janeiro contó con el patrocinio de TenarisConfab.

Juan Doffo dialoga desde la pintura y la por Revista Ñ Ar

Un puente entre la estepa y la pampa Juan Doffo dialoga desde la pintura y la fotografía con el universo poético del cineasta ruso Andrei Tarkovski. La naturaleza da sustancia a la conexión espiritual y estética entre los dos creadores. Por: Marina Oybin Cómo condensar ejes temáticos, estructuras narrativas, climas y ritmos cinematográficos en una imagen fija? ¿Cómo lograr que esas fotos o pinturas no obturen la potencia original de las películas que les dieron impulso? Eso es lo que uno se cuestiona en Cuando Tarkovski plantó un árbol en mi casa, la deslumbrante muestra de Juan Doffo en la galería Rubbers, que reúne pinturas de gran formato y fotografías que van desde 1989 hasta hoy, todas inspiradas en filmes de Andrei Tarkovski.  En sala, una proyección nos sumerge en fragmentos de películas de Tarkovski: al recorrer la muestra es posible viajar de la gélida Infancia de Iván (1962) a la Mechita desértica. O del fuego y el agua de cristal de las performances de Doffo hasta las llamas que queman cuerpos y casas en El espejo (1975) y en la belleza trágica, conmovedora, de Nostalgia (1983) y El sacrificio (1986). ¿Quién se anima a ir más allá de ese espacio que es puro enigma y acaso belleza? Quién se atreve a quebrar esa confortable quietud, nos preguntamos en esa bacanal visual hecha a golpe de detalles que es Stalker (1979). Un submundo con poco artificio donde sólo un chico conserva la huella de su paso por ese espacio enigmático que es “La Zona”. “En el amor y en el arte –dice el artista– siempre jugás con fuego: terminás en la locura o en la maravilla”. “La Zona” de Doffo nos lleva a un cruce infinito de vías del ferrocarril en Mechita, su pueblo natal que creció a la par del tren y con el menemismo quedó detenido en el tiempo. Leia mais em REVISTA Ñ. AR.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

DANTAS SUASSUNA - artista plástico- filho de Ariano

Artista Dantas Suassuna faz exposição retrospectiva no Bairro do Recife Cerca de 300 obras são apresentadas no Centro Cultural Correios, com entrada grátis Publicação: 09/10/2012 21:00 Atualização: 09/10/2012 20:58 Trabalhos de diversas fases do artista, com várias técnicas, estão na mostra. Foto: Helder Tavares/ DP/ D.A.Press Adro significa uma área que antecede o espaço interno de uma igreja, um pátio, a antecâmara de um lugar sagrado. O termo acabou se tornando conceito, e título, da nova exposição individual do artista plástico Manuel Dantas Suassuna, em cartaz no Centro Cultural dos Correios, Bairro do Recife. A mostra reúne cerca de 300 obras do artista dispostas em três ambientes, incluindo diferentes linguagens, entre as quais estão desenho, pintura, cerâmica e esculturas em barro. É fazendo uma retrospectiva do processo criativo que Dantas Suassuna remonta, em passo a passo invertido, desde a embrionária inspiração até o resultado final da obra. Assim ele constrói sua linha de pensamento acerca das ideias que desenvolve, e de outras que não levou adiante. Apesar de serem registros tão individuais, Dantas garante não ter problema em abri-los ao público, que vai poder manipular as páginas de cadernos. É o rudimentar lapidado para se transformar em suas mais variadas expressões, como cabeças em barro, painéis, quadros imensos com paisagens, desenhos, entre os quais está um feito a partir da técnica de escarificação na tinta fresca, surgindo assim a figura em traços talhados como cicratiz. Em outro ambiente foram colocadas na parede cem cruzes confeccionadas em barro, fazendo referência ao chamado cruzeiro dos acontecidos, nome dado àquelas cruzes fincadas nas margens das estradas, para lembrar mortos em acidentes. “Nesta mostra o público vai conseguir interagir com meu processo de desenhar, pintar e outras linguagens. Decidi deixar as salas em silêncio, sem trilha sonora, para resguardar esse recolhimento nos momentos de criação”, afirmou. Serviço Exposição Adro, de Dantas Suassuna Centro Cultural Correios (Av. Marquês de Olinda, 262, Bairro do Recife) Até 25 de novembro, de terça a sexta, das 9h às 18h; e aos sábados e domingos, das 12h às 18h Entrada grátis Informações: 3224-5739

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

BIENAL DO DESIGN 2012

EDIÇÃO 2012 A IV Bienal Brasileira de Design, que acontece de 19 de setembro a 31 de outubro, em Belo Horizonte, no Palácio das Artes, tendo como mostra principal “Da Mão à Máquina”, coloca a capital mineira como a cidade-sede do design. O evento deste ano tem a temática “Diversidade Brasileira”, sob curadoria geral de Maria Helena Estrada. A Bienal pretende delinear as referências e tendências nacionais e internacionais, com a participação de várias instituições, profissionais, pesquisadores, empresas, entre outros, que interagem com o design, e potencializar a utilização nos meios produtivos como ferramenta estratégica para a competitividade e melhoria da imagem do produto nacional no mundo – Marca Brasil. Para não se perder em tamanha diversidade serão priorizadas as vertentes étnicas; megadiversidade dos recursos naturais, somadas ao olhar econômico/produtivo. A ideia de diversidade está ligada a conceitos de pluralidade, multiplicidade, diferentes ângulos de visão ou abordagem, heterogeneidade e variedade. Muitas vezes, pode ser encontrada na comunhão de contrários, na intersecção de diferenças ou ainda na tolerância mútua. O evento estará ancorado em um pilar principal de Mostras e de Ações Educativas, de Conhecimento, Acadêmicas, Negócios e Ações de Eventos Integrantes. A programação – em suas diversas atividades e ações – espelha a transversalidade do design não só no setor produtivo, como na cultura e na sociedade como um todo. Nesta edição, a proposta básica e lógica é a de adotar uma perspectiva que deixe clara, quanto à vertente estética do design, que ocorreu uma inversão fundamental. Máximas tidas como verdades – por exemplo “a forma segue a função” – caem por terra com a inversão de conceitos arraigados e muitas vezes não questionados. Hoje é o material utilizado e suas potencialidades que irão determinar a forma de um objeto, e não apenas o desejo de seu criador. Esse personagem, é claro, deverá obedecer a todos os novos parâmetros ambientais, mesmo que custe sacrificar seu projeto original. Nesse novo mundo do Design, criador e criatura não mais sobrevivem sozinhos. Os muros de proteção foram derrubados. Todos precisam buscar conhecimento e aprimorar seus processos. Cumprindo um de seus propósitos que é a difusão do conhecimento e compartilhamento das melhores práticas, a IVBBD 2012 explorará as várias ferramentas de design nos seus aspectos tangíveis (tecnologia, processos, materiais) e intangíveis (cultural, social, emocional). Os organizadores esperam receber, além de designers e profissionais de áreas afins, a comunidade em geral para que assim possa tomar conhecimento da importância do design. Toda a estrutura do evento está preparada para os diversos cidadãos (crianças, idosos, portadores de necessidades especiais), a partir da presença de monitores treinados. Coordenador Geral Local Recebi do Governo de Minas a honrosa missão de Coordenar a Bienal Brasileira de Design cuja edição 2012 ocorre em Belo Horizonte. Muitos são os fatores que justificam a realização de uma Bienal, sendo o mais relevante deles o impacto positivo que um evento dessa proporção arrasta consigo mesmo. Oportunidade em que empresários e empreendedores atestam, através da diferenciação pelo design, os efeitos que um produto com conteúdos inovadores pode trazer para uma empresa, região ou país. Desde o inicio, era nossa intenção que os efeitos da Bienal em Minas fossem fator de impulso para a cadeia produtiva local. Que trouxesse como resultado um fator de linkage comercial, isto é: que os efeitos das suas ações, através de mostras, cursos, seminários, palestras, workshops e demais atividades, nos servisse como húmus rico e fértil para a expansão e consolidação da prática de design nas nossas empresas. O design, por ser uma atividade transversal, apresenta essa capacidade de integrar diversas áreas do conhecimento, açambarcando em si mesmo ciências aplicadas, tecnologia produtiva, economia de mercado, conhecimento e cultura, além de diversas outras disciplinas das áreas humanas e sociais. Uma tarefa complexa, como a realização de uma Bienal de Design, oportuniza uma rica interação com os diferentes parceiros que a compõem. Destaco, nesse papel, a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior – SECTES –, a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico – SEDE – e a Secretaria de Cultura – SEC – juntamente com a Federação das Indústrias de Estado de Minas Gerais – FIEMG –, a Universidade do Estado de Minas Gerais – UEMG – e o Centro Minas Design – CMD –, que não mediram esforços para levar adiante o desafio do nobre propósito do Governo de Minas em realizar a IV Bienal Brasileira de Design em território mineiro. Dijon De Moraes, Ph.D em Design. Reitor da Uemg Curadora Geral O design, por algumas décadas, apenas sinônimo de beleza, começou aos poucos a ganhar novas atribuições e exigências, como utilidade, funcionalidade, serviço, capacidade de salvaguardar o meio ambiente e também grande aliado da tecnologia. Hoje ele é ferramenta de vida, que abrange todas as áreas do fazer e do pensar. Diante do grande crescimento e fortalecimento do design no país, eis que surge a importante marca de se criar um grandioso evento: a Bienal Brasileira de Design, que neste ano, a ser realizada a partir de 19 de setembro de 2012, em Belo Horizonte, apresenta as mais significativas produções nacionais na área e revela o Brasil para o mundo. A Bienal tem como tema desta edição a “Diversidade Brasileira” e como destaque a mostra DA MÃO À MÁQUINA, um percurso contemporâneo de nossa cultura material, do artesanato à produção industrial.Já é uma realidade: não é possível, para um país, se tornar global, sem antes ser local. Esta é a linha mestra que norteia a principal mostra da Bienal. Nela estarão representadas expressões da cultura popular, da linguagem contemporânea do artesanato brasileiro, dos estágios de nossa produção semi-industrial e industrial, até exemplos de tecnologias de ponta. No âmbito acadêmico teremos um vasto programa internacional, que vai constar de fórum e seminário para discussão das questões mais urgentes do ensino do design no Brasil. Os seminários, que se desenvolverão ao longo de todo o período da Bienal, pretendem expor e discutir os diversos aspectos do design contemporâneo e estarão em sintonia com as mostras apresentadas. Não falamos em inovação, porque esta palavra é a própria definição do design. Mas é fundamental que o Brasil se alinhe com o pensamento internacional e com os rumos que hoje orientam esse novo design: útil e necessário, menos poluente com o uso de novos materiais, avançado em suas formas de produção e ambicionado pelo mundo. Maria Helena Estrada Editora da revista Arc Design e na empresa Quadrifoglio Editora Parceiros

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Vermelho Amargo – Bartolomeu Campos de Queirós

“Durante quatro estações, em todas as manhãs, o trem deslizava em frente de nossa casa. Nascia na cidade de um avô, que escrevia nas paredes, e morria na cidade de outro avô, com seu olho de vidro. Sempre suspeitei o nascer como entrar num trem andando. Só que não sabia de onde vinha nem para onde ia. E, no meu vagão, não escolhi companheiros para a viagem. Eram todos estranhos, severos, amargos, impostos. Também entrei sem comprar o bilhete de viagem. Minha bagagem, pequena, cabia debaixo do banco – da segunda classe – sem incomodar. Contrabandeava poucos pertences: uma grande dor que doía o corpo inteiro e a vontade de encontrar um remédio capaz de remediar o incômodo. Até hoje o mundo ainda não atracou. Vou sem escolher o destino. O trem estancava na minha cidade, trocava de carga e reabastecia-se. O mundo só nos permite uma baldeação definitiva.”Pág. 37-38
Trecho de um livro recente do saudoso Bartolomeu C. de Queirós. PROSA O romance “Vermelho amargo” (Cosac Naify), de Bartolomeu Campos de Queirós, foi escolhido o melhor livro do ano na quinta edição do Prêmio São Paulo de Literatura. Morto em janeiro de 2012, aos 67 anos, por insuficiência renal, o escritor mineiro foi laureado in memoriam, representado por sua editora, Isabel Coelho. Na categoria autor estreante, Suzana Montoro foi premiada com “Os hungareses” (Ofício das Palavras), sua estreia no gênero. Os vencedores da premiação literária do governo do estado de São Paulo foram anunciados na noite desta segunda-feira, no Museu da Língua Portuguesa. - Foi o último livro publicado por ele em vida, o primeiro em nossa editora. A vitória mostra que Bartolomeu é importante para a literatura brasileira, não só para a literatura infantojuvenil - disse Isabel Coelho, informando que o prêmio em dinheiro ficará com a família do escritor. by globo Li numa noite é de uma delícia absoluta, é poema sobre poema, de um viço total.. coisa rara; vez ou outra lembrava-me nosso MANOEL DE BARROS, mas Bartolomeu erA ele com ele, ou seja, ele mesmo de uma densidade de planalto falante tendo pendurado por todos os lados o doce de sua poética.Era um alcoviteiro do sonho, dA estética do delírio da fantasmagoria humana. Sõ lendo, quero conhecer sua cidde para beber seu cheiro. PauloVas

Stacey Kent fará quatro shows no Brasil em novembro

A DESLUMBRANTE E SIMPLES STANCEY KENT ESTARÁ NO BRASIL. VALE A PENA VER E CURTIR UMA CANTORA MADURA SÉRIA, ALÉM DE LINDA E DOCE-FÃ DA MPB PAULOVAS A cantora americana de jazz Stacey Kent fará quatro shows no Brasil em novembro. As informações foram divulgadas na tarde desta sexta-feira (15) pela assessoria de imprensa da produtora T4F, responsável pela turnê. Ela canta acompanhada pelo saxofonista Jim Tomlinson e pelo Trio Corrente. Stacey canta no Rio de Janeiro (27 de novembro), São Paulo (28), Curitiba (29) e Belo Horizonte (30). Stacey Kent no Brasil Rio de Janeiro Onde: Citibank Hall - Av. Ayrton Senna, 3.000 Quando: 27 de novembro Quanto: R$ 260 a R$ 350 São Paulo Onde: Teatro Abril - Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 Quando: 28 de novembro Quanto: R$ 100 a R$ 400 Curitiba Onde: Teatro Positivo - Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 Quando: 29 de novembro Quanto: R$ 180 a R$ 250 Belo Horizonte Onde: Teatro Sesc Palladium - Av. Augusto de Lima, 420 Quando: 30 de novembro Quanto: R$ 200 a R$ 300 Comunicar erroImprimir

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

DESTAQUE NA LITERATURA- MAIS UM PERNAMBUCANO NO MUNDO LITERÁRIO

Quero destacar este autor como um dos mais recentes aparecimentos de estrondo na literatura brasileira.VALE A PENA LER. PAULOVAS josé Luiz Passos nasceu em Pernambuco em 1971. Sociólogo por formação, doutorou-se em Letras. Morou em São Paulo e ensinou em Berkeley por nove anos. Atualmente é professor de literaturas brasileira e portuguesa na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, onde também foi, de 2008 a 2011, diretor do Centro de Estudos Brasileiros. Em 1998, publicou Ruínas de linhas puras, sobre as viagens de Macunaíma e sua relação com Pero Vaz de Caminha e Ulisses, de James Joyce. Em Machado de Assis, o romance com pessoas (2007), interpretou a influência de Shakespeare na composição moral dos narradores e personagens de Machado. No campo da ficção, estreou em 2009 com Nosso grão mais fino, contando a história de dois amantes que imaginam uma relação incestuosa, enquanto assistem à ruína das suas famílias no Nordeste canavieiro. Seu romance mais recente, O sonâmbulo amador (2012), acompanha a vida madura de Jurandir, um pequeno burocrata da indústria têxtil que, às vésperas de se aposentar, é tomado pela necessidade de prestar mais atenção aos sonhos e rever suas amizades: sem jamais querer ser herói de última hora, do confronto entre o amor e a política Jurandir busca apenas encontrar melhor companhia. ELOGIOS “Nosso grão mais fino contraria positivamente a literatura do aqui e agora. Representa na literatura brasileira contemporânea um romance de efetiva modernidade.” Carina Lessa, Jornal do Brasil “O romance traz um dos suicídios mais espetaculares da literatura brasileira. A cena aparentemente implausível torna-se impecavelmente verdadeira.” Jerônimo Teixeira, VEJA “A força da narrativa consegue operar uma espécie de aproximação entre Faulkner e João Cabral de Melo Neto.” Ricardo Lísias, Correio Braziliense “Os momentos de recordação, neste sofisticado autor, pairam fora do tempo, numa construção ficcional de caprichada fatura.” Flávia Cesarino Costa, Valor Econômico “Linguagem e estilo se colocam em diálogo fértil, com metáforas preciosas, vocabulário rico. Um escritor culto e engenhoso, que tanto se abandona na prosa poética quanto bem controla as camadas de histórias.” Milena Britto, A tarde "Um romance grande, sensível, que reata sim com uma miríade de referências da nossa literatura, mas jamais o faz mediante uma tese pensada e arquitetada. Ao contrário. Quem ousa, firme e teimoso, reinventar a prosa do engenho, revisitar o açúcar que se supunha acabado? Mas, sobretudo, quem é o despudorado a escrever uma prosa poética, a inventar uma voz lírica quase como se a escrita ultrarealista das últimas décadas não tivesse existido?" Pedro Meira Monteiro, Universidade de Princeton “O estilo é fino, as personagens ficam de pé. E a narrativa, já madura para um primeiro romance, lembra ao leitor Osman Lins e Machado de Assis.” Milton Hatoum “Um livro imponente. Sua escrita evidencia o talento e o capricho de uma inteligência culta e rara.” Francisco J. C. Dantas “Um belo romance, embrenhado em memória e cheiro de açúcar.” Pepetela

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Irã deve boicotar o Oscar 2013, não indicando nenhuma produção para concorrer na categoria de melhor filme estrangeiro.

POR UOL De acordo com informações da agência "Associated Press", o Irã deve boicotar o Oscar 2013, não indicando nenhuma produção para concorrer na categoria de melhor filme estrangeiro. Segundo o chefe da agência de cinema do país, Javad Shamaghdari, o Irã quer "evitar" a premiação por causa do filme anti-islã produzido nos Estados Unidos, que gerou protestos no mundo muçulmano por seu conteúdo ofensivo ao profeta Maomé. Shamafhdari estaria tentando convencer o comitê que escolhe o representante iraniano no Oscar a dar um passo atrás, já que o filme Ye Habbeh Ghand, or "A Cube of Sugar" já foi escolhido para concorrer ao prêmio. Shamaghdari disse que o Oscar deve ser boicotado até que os organizadores denunciem o filme anti-islã "Inocência dos Muçulmanos". Pelo menos 51 pessoas, incluindo o embaixador dos EUA na Líbia, foram mortas em violência ligada a protestos contra o filme, que também renovou o debate sobre a liberdade de expressão nos EUA e na Europa.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Perdemos o senso dos padrões aceitáveis de conduta urbana”

Uma grande figura do mundo intelectual, no que pese nao gostar do mundo acadêmico, me parece, sempre da dentro ao falar.Refiro-me a ANTONIO RISÉRIO A revista CONTINENTE MULTICULTURAL faz entrevista com ele, leiam e degustem a revista: PAULOVAS . . . . Escrito por Gianni Paula de Melo Ter, 04 de Setembro de 2012 13:37 . . . . Empenhado na campanha do candidato a prefeito da cidade de São Paulo, Fernando Haddad, o antropólogo Antonio Risério, que também participou dos bastidores da briga pela presidência ao lado de Lula e de Dilma Rousseff, vem dividindo sua agenda cheia de afazeres com outra atividade menos partidária: a divulgação do seu recém-lançado livro A cidade no Brasil (Editora 34). . . . No momento em que o país apresenta um significativo número de metrópoles que não param de “inchar” – para usar o termo que Gilberto Freyre considerava mais adequado que a simples ideia de “crescer” – , o intelectual baiano reúne uma série de ensaios que remontam ao processo de urbanização do país desde o período colonial, mostrando como e por que chegamos ao atual modelo caótico. . . Ao tópico crise urbana contemporânea, ele dedica apenas o último capítulo do livro, no qual condensa questões como segregação, segurança pública e privatização de espaços coletivos. A Continente procurou Risério para aprofundar esses assuntos que têm pautado discussões diárias nas grandes cidades brasileiras. . . CONTINENTE A atual crise urbana é um fenômeno generalizado ou conseguiríamos apontar metrópoles do país que escapam a essa lógica? ANTONIO RISÉRIO A crise é geral. Nenhuma cidade importante, de uma ponta a outra do país, vive dias tranquilos. Brasília, apesar de sua claridade e de suas virtudes, está no meio disso. E vai ficando sempre mais violenta. Curitiba, exemplo extremo de city marketing, com aquela arquitetura pesada e fechada, como boa parte dos seus habitantes, também. É claro que a cidade experimentou avanços, mas a Curitiba real, com favelas e discriminações, não coincide com a retórica de Jaime Lerner. O Brasil fez seu grande movimento de transição urbana – coisa que hoje vemos na China, na Índia e em países africanos como a Nigéria – entre as décadas de 1950 e 1970. Foi aí que tivemos a migração massiva do campo para a cidade, com o país deixando de ser vastamente rural para se tornar predominantemente urbano. Mas os problemas não foram resolvidos. São Paulo, por exemplo, tornou-se ainda mais desequilibrada, desigual e segregada, com uma nova e imensa periferia formando-se a partir da década de 1950, no rastro da indústria automobilística – desta vez, não mais com imigrantes europeus, mas com a migração nordestina. Hoje, ainda é a nossa cidade mais rica e poderosa, mas é um lugar onde a “mobilidade urbana” corre o risco de se converter em ficção urbanística e os serviços públicos são de baixa qualidade. Triste, ainda, é a situação de Salvador, mergulhada num estágio avançado de deterioração física e simbólica, com uma prefeitura que mescla corrupção e incompetência, um governo estadual omisso e uma população surpreendentemente apática. Para sair da grande crise urbana brasileira, vamos precisar de um verdadeiro Ministério das Cidades, de uma verdadeira reforma urbana nacional e de uma verdadeira vontade coletiva de sair do buraco. . . CONTINENTE Há uma música do Tom Zé que diz: “Bahia que padece de usura, que quer fazer torre de toda altura”, remetendo a um quadro de verticalização similar ao do Recife. É possível traçar um paralelo entre a capital pernambucana e Salvador? ANTONIO RISÉRIO Historicamente, a verticalização de cidades como Salvador e Recife começa com os altos sobrados coloniais. Sobrados de cinco e seis andares marcavam a paisagem dos antigos centros urbanos brasileiros. Outra coisa, que muita gente parece não notar, é o gosto ou a opção popular pela verticalização, visível em tantas favelas e bairros pobres, onde processos de autoconstrução geram prédios que vão somando andares. Não vejo isso nas “vilas” paulistanas, com suas casas de dois pavimentos, mas é coisa comum no Rio e na capital baiana. Outro dia, em Salvador, na confusão cheia de vida do bairro proletário de Pernambués, vi uma casa térrea com uma placa onde se lia “edifício fulano de tal”. Quer dizer, para além do otimismo do proprietário, tratava-se de um projeto, de algo predeterminado. Mas há uma diferença entre Salvador e o Recife, além do fato de que a capital pernambucana hoje é uma cidade mais organizada e menos malcuidada que a baiana. No Recife, já temos a verticalização da orla, como em Boa Viagem. Em Salvador, essa verticalização, em grande medida, ainda vai acontecer. Mas Salvador não deve seguir o exemplo do Recife, nesse caso. Porque o importante não é a altura das construções, mas a distância entre os prédios, que não pode ser pequena e deve ser definida com clareza e força de lei, de modo a garantir a passagem da luz e o movimento das brisas. Em Boa Viagem, temos uma parede de prédios, sombra na praia. O pior exemplo brasileiro, nesse sentido, é Copacabana. Afora isso, penso que a verticalização é menos danosa ao meio ambiente do que o espraiar dos subúrbios. A começar pelo consumo de terra: o sujeito que mora no vigésimo piso de um prédio, com dois apartamentos por andar, consome menos terra do que quem mora num condomínio de casas. Menos terra, menos água e menos energia. A cidade dispersa implica mais e maiores deslocamentos automobilísticos, mais gases de efeito estufa. A cidade compacta, ao contrário, aproxima as pessoas e as coisas. . . CONTINENTE “Fobópole” e “Privatopia” parecem conceitos centrais sobre a relação da sociedade com a cidade. Em que contexto surgem essas expressões? ANTONIO RISÉRIO Fobópole é o título de um livro de Marcelo Lopes de Souza, publicado no Rio, acho que em 2008. É uma palavra-montagem de extração grega, justapondo os vocábulos fobia e polis. Ou seja: “cidade do medo”. Privatopia é também um conceito novo, que surgiu em meio a estudiosos norte-americanos, justapondo uma palavra latina (privatus, no sentido de particular, de próprio) e uma grega (topus, de lugar), indicando o espaço privado como espaço ideal das classes privilegiadas, longe da promiscuidade, dos acasos e perigos dos espaços públicos. Essas expressões são filhas da violência e da segregação urbanas. Da violência e da segregação atuais, bem-entendido. Porque violência urbana sempre existiu. A Roma clássica era violenta, como violentas eram as vidas nas cidades coloniais brasileiras. A diferença, hoje, está na onipresença da violência e, consequentemente, na onipresença do medo. As pessoas passaram a construir muros não contra inimigos externos da cidade, mas contra supostos inimigos internos de classes ou grupos sociais economicamente dominantes. As cidades sempre tiveram muros delimitando sua área. O problema, hoje, é que os muros passaram a ser edificados intramuros, definindo enclaves fortificados. A fobópole incrementa a privatopia. Os conceitos respondem a essa realidade, que se configura a partir da segunda metade do século 20. . . . CONTINENTE A “cultura do medo” é interessante e rentável para várias frentes ideológicas e áreas de negócios. Você acredita que a fobópole interessa ao próprio Estado? ANTONIO RISÉRIO A “cultura do medo”, levando elementos e princípios da engenharia de guerra (guaritas, cercas elétricas, sirenes, câmeras de vigilância, etc.) para a produção de moradias, por exemplo, é altamente lucrativa para certas fábricas, empresas de segurança e afins. Deve interessar a quem produz isso, a quem atua nessas áreas, a empresários e trabalhadores do ramo. Mas não vejo razão maior para isso interessar ao Estado. Na verdade, a onipresença do medo pode conduzir a uma espécie de militarização cotidiana da vida citadina que, se pode interessar a milícias, não interessa ao Estado, que se vê até mesmo na obrigação de tentar recuperar seu monopólio da coerção organizada. . . CONTINENTE Quais medidas a sociedade civil organizada poderia tomar para estimular uma reeducação entre as pessoas e a cidade? ANTONIO RISÉRIO Talvez seja o caso de a “sociedade civil” começar a pensar em sua própria educação, em procurar educar-se a si mesma, antes de pensar em qualquer outra coisa. Porque ela não é nenhum exemplo. É a grande criadora de problemas em nossas cidades. De onde vem toda a grossura no trânsito? Quem promove, consome e até celebra privatizações escandalosas de espaços públicos, como, por exemplo, de segmentos litorais de algumas cidades? A sociedade civil pode não ser a origem de todo o mal, como querem alguns filósofos, pensadores políticos, mas ela certamente não é nenhuma fonte sublime do bem. Vejamos uma coisa bem simples, rasteira. O problema todo, hoje, começa já na esfera da educação doméstica – e se prolonga no campo da educação urbana. As pessoas não sabem mais se comportar, dentro e fora de casa. Perderam o senso dos padrões razoavelmente aceitáveis de conduta urbana. Lembro-me, aliás, de que, quando eu era adolescente, as pessoas mais velhas costumavam empregar as palavras “urbano” e “urbanidade” como sinônimos de boa educação, de saber se comportar ou se conduzir na urbe. Num certo sentido, a expressão urbanidade era o nosso equivalente da sociabilité dos franceses. Uma pessoa urbana era uma pessoa polida. E hoje? A sociedade tem de reaprender até os chamados “bons modos”. . . CONTINENTE Os movimentos ligados às questões da urbanização refletiriam a segregação da sociedade, posto que são liderados por intelectuais de classe média e, às vezes, pouco articulados com as camadas populares? ANTONIO RISÉRIO Não é bem assim. Primeiro, porque, com ou sem intelectuais de classe média, as camadas populares vêm discutindo, a partir de suas óticas e informações, temas e problemas da vida urbana brasileira. Isso é bem visível em São Paulo, com associações de bairro, por exemplo, mas também em muitas outras cidades brasileiras. Acontecem até “audiências públicas” na Câmara Municipal para ouvir esses agrupamentos comunitários. De outra parte, não olho com nenhum preconceito o desempenho político-social de intelectuais da classe média. A classe média sempre esteve na vanguarda das transformações sociais e culturais do mundo moderno. Um dos erros espetaculares do marxismo, com sua ênfase no confronto antagônico entre burguesia e proletariado, foi, exatamente, o de achar que o destino da humanidade estava inteiramente nas mãos do proletariado e de atacar e afastar a classe média do campo progressista, empurrando-a para os braços do conservadorismo, da direita. Acho, por isso mesmo, que nossos artistas e intelectuais “de esquerda” ainda devem um grande hino, um elogio à coragem, à criatividade e à ousadia classemedianas. A classe média muitas vezes está na linha de frente de extraordinários avanços, de grandes conquistas. Está presente, sim, nos “movimentos ligados às questões da urbanização”. Mas não meramente em decorrência da segregaçãosocioespacial – e, sim, porque vive intensamente as cidades. . . CONTINENTE No livro, o termo “urbanização pirata”aparece relacionado às ocupações realizadas por moradores de ruas e favelas. Esse conceito está associado basicamente a esses tipos de ocupações ilegais? ANTONIO RISÉRIO São ocupações ilegais ou extralegais. Mas é preciso fazer uma diferenciação sociológica, porque os ricos também invadem terrenos públicos, constroem sem alvará, fazem mil coisas proibidas, sem falar do uso escandaloso de inside information, de informação privilegiada, para fins altamente lucrativos. Só não falamos de urbanização pirata, a propósito de tantas coisas, porque as elites não raro têm o aparelho estatal a seu serviço. Mas a verdade é que o comportamento de nossas elites sociais e econômicas, diante do espaço urbano, pode muitas vezes ser classificado como “caso de polícia”, embora essas pessoas raramente paguem pelo que fazem. Então, a expressão urbanização pirata fica reservada para coisas que envolvem segmentos populacionais menos favorecidos socialmente. É o caso de loteamentos clandestinos nas grandes cidades, com frequência assentados sobre as chamadas “áreas de risco”, com a autoconstrução proletária ou lumpemproletária ameaçando mananciais. É bandidagem fundiária atraindo pobres, não a bandidagem fundiária dos ricos, regra geral muito bem protegida. . . CONTINENTE Outro termo que você usa é “fundamentalismo ambientalista”. Acredita que há uma militância exagerada ligada à temática verde? ANTONIO RISÉRIO O problema não é de “militância exagerada”, mas de um ativismo cego, em que reinam uma série de clichês euma carência absurda de informações. O que temos, no Brasil, é um ambientalismo de ideólogos, em que não há cientistas. Então, a racionalidade é destronada pela crença, pelas fantasias, pelo fundamentalismo. Por esse mesmo caminho, nossos ambientalistas também querem fazer de conta que não serão gigantescas as dificuldades evidentes da passagem da economia de alto carbono para uma nova economia, uma economia “verde”, de baixo carbono. Vão ser dificílimos, também, a superação de hábitos, o descarte de ideologias e signos de “status”. Quando não se leva nada disso em consideração, o fundamentalismo dá as cartas – e esse ambientalismo fundamentalista ou esse fundamentalismo ambientalista não me interessa nem um pouco. . . CONTINENTE Além da superpopulação das metrópoles e do esvaziamento do campo, existe um movimento de urbanização das cidades de interior. Este é um quadro preocupante ou inevitável? ANTONIO RISÉRIO É inevitável. Marx já antevia uma urbanização em escala planetária. Diante das megacidades que nos aguardam, num futuro próximo, nossas atuais metrópoles ainda vão sugerir cidades de porte médio. As cidades caminham para conturbações espetaculares. No Brasil, também, e precisamos estar preparados para isso. Especialmente porque há um aspecto fundamental para nós, que não vivemos nas democracias ricas do Atlântico Norte: cidades imensas, hoje, são um fenômeno da pobreza, coisa de países emergentes. Durante o século 19, as maiores cidades do mundo eram europeias, mas as coisas mudaram. Em meados do século passado, Nova York deixou Londres para trás, tornando-se a maior cidade do planeta – mas, já pela década de 1980, Tóquio desbancou Nova York. Daí para cá, cidades extraeuropeias, cidades do Hemisfério Sul, crescem de modo espantoso. Hoje, no século 21, nenhuma das megacidades do mundo está na Europa. Elas se distribuem agora pelas Américas, pela Ásia e pela África. E aqui, fora dos EUA, estão se expandindo de um modo terrivelmente favelizado. São as megacidades subequatoriais, crescendo na China, na Índia, no Brasil, na Indonésia, no Egito, na Nigéria, na Turquia. Megacidades com megafavelas. Daí que Mike Davis diga que nosso futuro urbano, o futuro urbano do Hemisfério Sul, estará nas favelas, das barriadas mexicanas aos kampongs asiáticos. Isso não é profetismo apocalíptico, mas algo que já está acontecendo. A nossa grande luta urbana, nesta primeira metade do século 21, é contra a favelização final deste lado do nosso planeta. É dessa perspectiva que devem ser encarados todos os problemas, da mobilidade urbana aos delitos ambientais, passando pelo narcotráfico. Ou seja: o inevitável é, também, extremamente preocupante.

Afora a Bienal que está morna, como sempre, vejam

Além da exposição principal no Pavilhão da Bienal no Parque Ibirapuera, a 30ª Bienal de São Paulo - A iminência das poéticas também estará presente em outras instituições culturais na cidade de São Paulo. Confira abaixo as datas de abertura e programação nesses locais. Tudo em sua mente. Viagem em dois atos - Leandro Tartaglia 4 de setembro a 9 de dezembro Em seu trabalho desenvolvido para a 30ª Bienal, o artista argentino Leandro Tartaglia desenvolveu uma viagem em dois atos que parte do Pavilhão da Bienal e será acompanhada por um áudio. No meio da viagem, o participante sai do carro em frente à Capela Morumbi, espaço que integra uma instalação sonora da artista Maryanne Amacher. Duração total da viagem: 1 hora. Distribuição de senhas no local 1h antes do evento Horários: terça a sexta às 13h. Sábados e domingos às 15h. Local de partida: saída do Pavilhão da Bienal Alexandre Navarro Moreira na Avenida Paulista 4 de setembro a 9 de dezembro Ao longo da avenida, em displays de bancas de jornal. Jutta Koether e Benet Rossell no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) 4 de setembro a 9 de dezembro MASP, Avenida Paulista, 1.578, Bela Vista, São Paulo. T (11) 3251 5644 www.masp.art.br Horários de funcionamento: terça a domingo das 11h às 18h (a bilheteria fecha às 17h30), quintas das 11h às 20h (a bilheteria fecha às 19h30). No dia 4/9, os convidados para a abertura da Bienal irão receber (até 15h) pulseiras que dão acesso gratuito ao Masp até 9/9 Charlotte Posenenske na Estação da Luz 4 de setembro a 9 de dezembro Estação da Luz Fechada das 00h às 5h. Maryanne Amacher na Capela do Morumbi 5 de setembro a 9 de dezembro Abertura: 5 de setembro às 10h Capela do Morumbi, Avenida Morumbi, 5.387, Morumbi, São Paulo. T (11) 3772 4301 www.museudacidade.sp.gov.br/ Horários de funcionamento: terça a domingo das 9h às 17h Hugo Canoilas na Casa do Bandeirante 5 de setembro a 9 de dezembro Abertura: 5 de setembro às 15h Casa do Bandeirante, Praça Monteiro Lobato, s/n, Butantã, São Paulo. T (11) 3031 0920 www.museudacidade.sp.gov.br/ Horários de funcionamento: terça a domingo das 9h às 17h José Arnauld-Bello, Robert Smithson e Xu Bing no Museu de Arte Brasileira da FAAP 6 de setembro a 4 de novembro Abertura: 5 de setembro das 16h às 18h. Museu de Arte Brasileira da FAAP, Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo. T (11) 3662 7198 www.faap.br/museu Horários de funcionamento: terça a sexta das 10h às 20h (a bilheteria fecha às 19h) – sábados, domingos e feriados: 13h às 18h (a bilheteria fecha às 17h). Fechado às segundas, inclusive quando feriado. Sergei Tcherepnin com Ei Arakawa na Casa Modernista 5 de setembro a 9 de dezembro Abertura: 5 de setembro às 18h Casa Modernista, Rua Santa Cruz, 325, Vila Mariana, São Paulo. T (11) 5083 3232. www.museudacidade.sp.gov.br/ Horários de funcionamento: terça a domingo das 9h às 17h Bruno Munari no Instituto Tomie Ohtake 3 de outubro a 18 de novembro Abertura: 2 de outubro às 20h Instituto Tomie Ohtake, Av. Brigadeiro Faria Lima, 201, entrada pela R. Coropés, Pinheiros, São Paulo. T (11) 2245 1900 www.institutotomieohtake.org.br Horários de funcionamento: terça a domingo das 11h às 20h Acesse www.30bienal.org.br para obter a programação completa da 30ª Bienal de São Paulo e a das instituições que compõem o Pólo de Arte Contemporânea.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Apelidos do GOOGLE REVISTA BRASILEIROS

A revista Brasileiro, de setembro,, através de minha coluna PALAVRA DE BRASILEIROS, traz o humor dos brasileiros na denominação do maior motor de busca do mundo O GOOGLE.
É o humor e o esculpir da língua dentro do fenômeno de denominações estranhas a nossa língua, mas logo adaptadas ao nosso léxico do cotidiano.
É humor mesmo, leiam.
Paulovas

Ideologia e propaganda -Esplendores do Vaticano -EXPOSIÇÃO. OCA SP

A igreja Católica se mantém altiva no seu marketing.Antes foram as próprias igrejas, seus prédios.
Desgastadas no implemento dos seus prédios,da arquitetura ,a sua decoração, em tempos que a obra de arte distanciou-se do sagrado católico, e tornou-se objeto de consumo.
Para novos tempos novas estratégias de marketing, ao menos, para a classe média, sim, isto porque o ingresso mais barato é de 22,00 reais, mesmo com o patrocínio entre outros do Grupo Bradesco.


http://www.esplendoresdovaticano.com.br/
leiam informe da exposição.

Pela primeira vez na América Latina, uma seleção de obras de arte e relíquias que ilustram mais de dois mil anos de história da humanidade. São 200 itens, entre obras-primas de Michelangelo, Guercino, Bernini e outros, além de vestimentas, relicários, mapas, documentos e ambientes cenograficamente recriados, como o teto da Capela Sistina. Peças que, na sua maioria, nunca saíram do Vaticano. E não vão mais sair da sua memória.
Os trabalhos artísticos são expostos em ordem cronológica e as coleções são organizadas em 11 galerias e ambientes cenograficamente recriados, onde, de forma dinâmica e interativa, os visitantes são levados a uma viagem pelas épocas de expressão que marcaram a história.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Art rio

O Rio é Arte, ela não só tem vocação, ela é arte, do morro às periferias ,mdo centro a Zona Sul, norte , leste oeste.
Seu trajeto vem deste a colônia passando pela monarquia e adentra a República, mesmo com a perda da condição de capital federal ela tem a coroa, a febre a doença boa da Arte.
Ainda não me convenci porquê a Bienal está em São Paulo.
O RIO daria mais cor e brasilidade, estou certo disto
A ARTRIO ASSUME O PODER DOS GALERISTAS E COMPETE,EM TERMOS PELA VISITAÇÃO COM A BIENAL,PENA QUE SEJA POUCO TEMPO.
Esperamos que a terceira edição amplie seu tempo para tirar público da BIENAL DE SÃO PAULO, pôs esta é decadente.

..clique no título e vá ao site rioart...

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Gabriel García Márquez chega à China 27 anos depois

Por uol
Não temos notícias de Gabriel Garcia Marquez, o que soube era que não estava bem e que a família estava ao seu lado, especialmente seu filho.Se antes, da doença nao costumava dar entrevistas, agora findou.
É lastimoso, mas é a vida e sua sequência, a qual todos nós nos subordinamos, queiramos ou não.
Ficaram suas palavras, seu imaginário e sua capacidade de nos apresentar ao mundo em nossas peculiaridades.
Paulo Vas


DA EFE

A primeira versão autorizada em mandarim de "O Amor nos Tempos do Cólera", um dos mais famosos romances do escritor Gabriel García Márquez, chegou finalmente à China, um mercado em que durante anos circularam versões ilegais de muitas obras do Nobel de Literatura colombiano.

A professora de espanhol Yang Ling foi encarregada da tradução da obra, de 1985, publicada pela editora Thinkingdom e lançada nesta segunda-feira na estatal Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim.

"Com o livro, cada um pode reencontrar seu próprio sentimento do 'primeiro amor' e García Márquez aparece como um homem real, de carne e osso, e sentimos profundamente o que ele sente", descreveu Yang à Agência Efe ao comentar a obra célebre, sua primeira tradução de um romance latino-americano.

A professora acrescentou que enquanto "Cem Anos de Solidão" pode ser definido como um livro escrito com "a caneta de Deus", em "O Amor...", "Márquez se revela como Jesus: com um lado humano e um lado divino".

Fernando Vergara - 26.mar.07/Associated Press

O Nobel de Literatura Gabriel García Marquez
"O que mais me impressionou foi o amor. É um tipo de amor diferente. Os chineses não falam tanto disso porque geralmente somos mais tímidos. García Márquez fala muito do amor. O amor que está em seu livro me comoveu muito. E acaba nos mostrando que é a coisa mais importante da vida e que sem ele não podemos viver", refletiu Yang.

Chen Zhongyi, pesquisador de Filologia Hispânica da Academia de Ciências Sociais da China e que traduziu "Gabo" nos anos 1980, elogiou a tradução lançada hoje e afirmou que "no plano de fundo há muito da história da sociedade (colombiana), mas o mais importante é a imaginação e o estilo de García Márquez".

Por sua vez, a diretora do Instituto Cervantes de Pequim (organismo que colabora com a editora do livro), Inmaculada González, opinou à Efe que a nova tradução é admirável porque durante muitos só se conheciam na China edições não reconhecidas nem por "Gabo" nem por seu agente.

"É um grande passo adiante e também representa um novo momento da situação editorial na China, que cada vez adquire mais direitos de autores estrangeiros e também certamente significa que cada vez serão traduzidos mais autores chineses", opinou González.

O primeiro-secretário da Embaixada da Colômbia na China, Luis Roa, encarregado de Assuntos Culturais, opinou por sua vez que a obra "é um grande presente cultural e literário que 'Gabo' dá ao povo chinês e um grande legado literário da literatura colombiana que finalmente se torna oficial".

Em 1990, o Nobel de Literatura colombiano chamou os chineses de "piratas" ao descobrir que suas obras eram traduzidas sem autorização, e reza a lenda entre os hispanistas chineses que afirmou que "nem 150 anos após sua morte autorizaria".

Com o protocolo de 1991 do Convênio de Berna para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas, editoras chinesas, primeiro estatais e depois privadas, tentaram adquirir os direitos da obra prima do realismo mágico latino-americano, mas consideraram muito alto o preço que Carmen Balcells, agente de "Gabo", havia estabelecido.

A tradução agora publicada, de Thinkingdom Media Group Ltd, é a terceira que a casa editorial apresenta de García Márquez após ter lançado em maio do ano passado a versão oficial de "Cem Anos de Solidão" e pouco depois o ensaio "No he venido a dar un discurso" (não publicado no Brasil).

"Anteriormente seus trabalhos não haviam sido publicados formalmente, por isso achamos que temos a responsabilidade de publicá-los para contribuir com a melhora da literatura que existe na China e para que os leitores chineses possam conhecer o trabalho de García Márquez", declarou à Efe Liu Cancan, representante da editora.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Boaventura Sousa Santos: Para uma sociedade melhor: desmercadorizar

Retirado J das Letras Lisboa PT


Desmercadorizar é um imperativo incontornável na busca de uma sociedade melhor. Sobrepostas às crises financeira, económica e social que acompanham o capitalismo desde o seu início, as crises ecológica, energética e alimentar vieram conferir um grau de convicção maior a algumas constatações que até agora não tinham merecido a atenção do cidadão comum. Eis algumas dessas constatações.

Primeiro, conceber o desenvolvimento como crescimento infinito assente na apropriação intensa da natureza é uma conceção que nos conduz ao desastre. A natureza está dar múltiplos sinais de que os seus ciclos de regeneração vital têm vindo a ser violados muito para além do que é sustentável. A natureza aguenta bem o uso por parte dos humanos mas não o abuso. O planeta não é inesgotável. O estilo de vida nos países desenvolvidos é energívoro e submete as energias não renováveis a uma pressão insustentável.

Segundo, a redução do bemestar ao bem-estar material, baseado no consumo de bens disponíveis no mercado, deixa de lado muitas dimensões da vida (a espiritualidade, o cuidado, a solidariedade, os valores éticos) essenciais ao florescimento humano. Tornam-se necessários outros indicadores de bemestar.

Soa hoje menos absurda ou exótica a iniciativa de um pequeno país budista entalado nos Himalaias, Butão, que, em 1972, decidiu criar um índice de Felicidade Interna Bruta (por analogia com Produto Interno Bruto) para medir o desenvolvimento humano com base nos valores da sua cultura.

Terceiro, como qualquer outro fenómeno histórico, se o capitalismo teve um início, certamente terá um fim. Aliás, a crise ecológica está a mudar os termos dos desafios que enfrentamos: se o problema não for o de saber se o capitalismo sobreviverá, é certamente o de saber se sobreviveremos ao capitalismo.

Quarto, o capitalismo, por mais dominante, não conseguiu nunca erradicar totalmente outras lógicas de relações económicas que não passam nem pela acumulação infinita de riqueza nem pelo lucro a qualquer preço; essas lógicas (algumas existiam antes do capitalismo e sobreviveram, outras surgiram com o capitalismo e para lhe resistir) contêm um repertório de inovação social e económica que pode ser precioso num contexto em que se aprofundam as crises social, ecológica, alimentar e energética.

Refira-se, a título de exemplo, o conceito de "viver bem", Sumak Kawsay em quéchua, que os indígenas do Equador lograram transformar em imperativo constitucional, ao mesmo que atribuíram à natureza (Pachamama, a terra mãe) a titularidade de direitos próprios dela e não dos humanos.

Desmercadorizar significa impedir que a economia de mercado estenda o seu âmbito a tal ponto que transforme a sociedade no seu todo numa sociedade de mercado, numa sociedade onde tudo se compra e tudo se vende, inclusive os valores éticos e as opções políticas.

O imperativo de desmercadorizar envolve a promoção do mais amplo conjunto de iniciativas, muitas delas já testadas pelo tempo e pela capacidade de criar bem-estar para os que nelas participam. Com algumas adaptações, as propostas pela desfinanceirização da Europa estão hoje a ser avançadas a nível mundial.

Constituem um dos núcleos centrais do objetivo de desmercadorizar a vida pessoal, social, política, cultural.

Com o mesmo objetivo, muitas outras propostas e iniciativas têm vindo a ser apresentadas. Fazem parte da consciência antecipatória do mundo e vão esperando a hora da vontade política para as levar à prática. Entre muitíssimas outras, eis algumas.

-Promover formas de economia social tais como cooperativas, economia solidária, sistemas de entreajuda e de troca de tempo e de trabalho -Submeter ao controlo público (não necessariamente estatal) democrático (não burocrático) a exploração e gestão de recursos e de serviços essenciais ou estratégicos -Desmercadorizar a natureza na medida do possível -de que é bom exemplo o pacto internacional da água, há algum tempo em discussão -promovendo uma nova relação entre seres humanos e natureza assente na ideia de que os primeiros são parte da segunda (não existem à parte dela) e que por isso deverão respeitar os ciclos vitais de regeneração da natureza, sob pena de suicídio coletivo -Definir uma nova geração de direitos fundamentais: os direitos da natureza, os direitos humanos à água, à terra, à biodiversidade e a consequente consagração de novos bens comuns insuscetíveis de serem privatizados -Interditar a especulação financeira sobre a terra e os produtos alimentares a fim de evitar a concentração de terra (está em curso uma contrarreforma agrária) e a subida artificial dos preços dos alimentos -Transformar a soberania alimentar em eixo de políticas agrárias para que os países deixem de ser, na medida do possível, dependentes da importação de alimentos -Regular estritamente os agrocombustiveis pelo impacto que têm na segurança alimentar e na soberania alimentar. O impacto destes projectos na agricultura e na vida dos camponeses não é difícil de imaginar - Aumentar a vida média dos produtos manufaturados. Um carro ou uma lâmpada podem durar muito mais tempo sem acréscimo de custos -Tributar de forma agravada alguns produtos agrícolas que viajam mais de 1000 km entre o produtor e o consumidor, criando com a arrecadação um fundo para apoiar o desenvolvimento local dos países menos desenvolvidos -Incluir a diminuição do tempo de trabalho entre as políticas de promoção de emprego -proibir o patenteamento de saberes tradicionais e reduzir drasticamente a vigência de direitos de propriedade intelectual na área dos produtos farmacêuticos e agrícolas -Aproveitar ao máximo as potencialidades democráticas da revolução digital para promover uma cultura livre que recompense coletivamente a criatividade de artistas e investigadores, generalizando a inovadora experiência do movimento do Open Source Software, e da Wikipedia.

Estas são algumas imagens da consciência antecipatória do mundo.

Dir-se-á que são utópicas ou eivadas de romantismo. Sem dúvida.

Mas devemos ter em conta algumas cautelas ao estigmatizar a utopia.

Muitas destas propostas, quando detalhadas tecnicamente, dispõem de medidas de transição e são susceptíveis de aplicações parciais.

Acresce que uma ideia inovadora é sempre utópica antes de se transformar em realidade. Finalmente, porque muitos dos nossos sonhos foram reduzidos ao que existe e o que existe é muitas vezes um pesadelo, ser utópico é a maneira mais consistente de ser realista no início do século XXI.

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O livro Portugal -Ensaio contra a autoflagelação, com 154 páginas, divide-se em sete capítulos. Desde o primeiro, com "breves precisões conceituais sobre as crises e suas soluções", até ao último, com o título "Outro mundo é possível" (palavra de ordem do Forum Social Mundial, de que Boaventura de Sousa Santos é um principais dirigentes ou teorizadores), o autor analisa a situação atual, seus problemas e desafios -e faz propostas. O trecho que publicamos é o final desse último capítulo, sobre o que considera ser, criando um novo termo, o terceiro "imperativo" -depois de "democratizar" e "descolonizar" -para "sair da crise com dignidade e esperança". Boaventura carateriza a autoflagelação como "a má consciência da passividade", considerando não ser "fácil superá-la num contexto em que a passividade, quando não é querida, é imposta".
 In 1060, de 18 de maio de 2011


Ler mais: http://visao.sapo.pt/boaventura-sousa-santos-para-uma-sociedade-melhor-desmercadorizar=f605755#ixzz231PTeoxr

Pastoril com narração