SINPRO
Por Francisco Bicudo
O contato que os estudantes travam durante o ensino médio com a literatura brasileira e seus mais representativos autores em geral esgota-se com a análise sobre o movimento modernista. Por conta dos mais variados motivos – tempo restrito, estrutura das grades curriculares, excesso de conteúdos, bibliografia mais limitada e escassa, referências e parâmetros estabelecidos pelos exames vestibulares –, o mais comum é que esse percurso não ultrapasse a primeira metade do século XX. Cria-se dessa forma um vácuo, como se a produção literária nacional tivesse parado no tempo, sem consagrar outros estilos e experiências em décadas mais recentes.
O livro Ficção brasileira contemporânea (editora Civilização Brasileira), de Karl Erik Schollhammer, professor-associado do departamento de Letras da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), ajuda a preencher parcela dessa lacuna e se propõe a oferecer “um apanhado de nossa produção ficcional das últimas três décadas, até chegar à produção recente, que tem sido chamada de geração 00”, como destaca a própria apresentação da obra. Ainda na Introdução, o autor escreve que “o livro levanta questões centrais para uma melhor compreensão das transformações que vêm ocorrendo na literatura, dando preferência às obras mais recentes e que ainda não acumularam fortuna crítica”.
O SINPRO-SP trocou algumas ideias por e-mail com Schollhammer (atualmente, o pesquisador está na Dinamarca, onde desenvolve pesquisas financiadas pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES). Por isso mesmo, a conversa está muito longe de esgotar o assunto, mas certamente representa um estímulo e uma porta de entrada para o fascinante mundo da ficção nacional contemporânea, que reúne autores tão distintos como Milton Hatoum, Bernardo Carvalho, Marcelino Freire e Cristovão Tezza, apenas para citar alguns dos autores analisados pelo professor da PUC-RJ.
Para o especialista, uma das características que aproxima esses escritores é “um contínuo interesse pelo realismo, o regionalismo, o intimismo existencial e psicológico, o experimentalismo linguístico e a meta-literatura”; no entanto, Schollhammer reconhece também as diferenças e ressalta que se trata de “um grupo heterogêneo” e que “não pretendeu criar uma homogeneidade falsa, quando há diferenças óbvias”.
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