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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Projetar e tecer, tecer e projetar





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Projetar e tecer, tecer e projetar
Como superar as dificuldades que presenciamos no ensino de Música nas escolas? Quais características deve ter um projeto de formação contínua de educadores que atuam com ensino de Música na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental? Como envolver professores de classe? Como prepará-los para atuar com novos paradigmas em suas prá- ticas docentes? Quais possibilidades e limites destas ações?
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>> A procura de respostas para estas questões orientou minha pesquisa de doutorado, que resultou na tese “Música na escola: desafios e perspectivas na educa- ção contínua de educadores da rede pública”, uma pro- cura de respostas, uma busca de conhecimento.
O homem foi procurar o sábio e lhe entregou o tapete, conforme ele havia lhe pedido. O sábio sorriu e, olhando bem dentro de seus olhos, ofereceu-lhe uma xícara de chá, enquanto dizia pausadamente:
- Você só conseguiu esse tapete, porque a partir de um certo momento de sua busca, deixou de pensar em você mesmo e passou a trabalhar apenas por ele. Então agora poderá obter o conhecimento que veio bus- car, quando falou comigo pela primeira vez. (MACHADO, 2004, p. 202)
Trabalhar pelo tapete... projetar e tecer, tecer e projetar uma pesquisa sobre formação contínua de educadores da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I no Projeto Tocando, cantando,...fazendo música com crianças - Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes, SP. Pesquisa que foi se constituindo processualmente, em uma seqüência que compreendeu três momentos.
O primeiro deles realizado ao longo dos anos 2002 e 2003, compreendeu cinco módulos de cursos solicita- dos pela Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes. Embora referenciados nas questões de ensino das escolas, elas nem sempre eram o lócus de sua ocorrência. Nesta etapa todos os cursos foram minis- trados por mim, assim como indicações e orientações a esta Secretaria Municipal de Educação para aquisição de instrumentos musicais próprios para musicalização, reuniões nas escolas, organização e preparação de saí- das para assistir apresentações musicais.
O segundo momento teve início em meados de 2003
dando origem ao projeto Pedro e o Lobo, inspirado na obra de Prokofiev, por iniciativa da EM Dom Paulo Rolim Loureiro, uma pequena escola rural de Educação Infantil. As realizações das professoras e da diretora desta escola e o grande interesse que apresentavam levaram à criação e desenvolvimento de um projeto de formação contínua para o ensino de Música, realizado no espaço da escola e envolvendo toda a equipe peda- gógica. O êxito desse projeto propiciou em 2004 a sua expansão para mais outras sete escolas que também passaram a solicitar o mesmo desenho de projeto: ter assessoria de Música, realizar-se no lócus da escola, abranger toda equipe escolar, ser interdisciplinar e integrar-se ao Projeto Político Pedagógico da escola. O terceiro momento teve início em 2005, com a intro- dução de monitores. No começo com quatro professo- res de música da cidade, tendo-se ampliado no 2o semestre deste mesmo ano para mais três professores de música da cidade, junto a nove alunos meus da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho / Instituto de Artes de São Paulo, do curso Licenciatura em Educação Musical.
O trabalho teve sua continuidade a partir de setembro de 2007 - não mais fazendo parte desta pesquisa de doutorado - em um novo Projeto de Formação Contínua de Educadores, que manteve o mesmo nome do anterior, numa parceria da Secretaria Municipal de Educação de Mogi das Cruzes, com o Instituto de Artes - Unesp e Fundunesp, continuando até hoje. Com a chegada dos monitores de música, estes passaram a ter suporte da assessoria de Música, que também fazia a coordenação do projeto, em parceria com o Departamento Pedagógico desta SME.
Um olhar analítico ao longo do desenrolar desses três momentos do projeto Tocando, cantando,...fazendo música com crianças, evidencia o fato de ter começado com um projeto da SME de Mogi das Cruzes que solici- tou cursos de educação musical para professores e que >>
>> se consubstanciou em projetos das escolas, abarcando a equipe pedagógica da escola. Os cursos disponibili- zados no primeiro momento despertaram os participan- tes para o exercício de sua autonomia profissional que se revela no segundo momento com a construção do projeto com a equipe da escola, no lócus da escola. Autonomia que é levada adiante e se aprofunda nas escolas participantes, cada uma delas enveredando por temas e Projetos Político Pedagógicos diversos.
Foram importantes “despertadores” da iniciativa para a autonomia profissional docente, para a edificação do saber música e do saber ser educador que atua com música, a articulação de vários componentes: cursos; assessoria no lócus da escola; avaliações diagnóstica, processual e final; workshops; apreciação estética e práticas de ampliação da cultura musical docente; par- ticipação em apresentações musicais; apresentação de comunicações em eventos educacionais; publicação de produções textuais. Esses componentes foram surgin- do e se desdobrando a cada ano, fruto do processo desenvolvido e das avaliações diagnóstica, processual e final que indicava caminhos, retomadas, mudança de curso, avanços.
É preciso compreender que os modos de ser não são fortuitos; todos eles têm razões his- tóricas, tanto os velhos, já instalados, quan- to os novos, desejados. Quanto mais sereno for esse encontro, mais paciente será o pro- fissional consigo próprio e com o seu pro- cesso de mudança, posto que, como quais- quer dos processos humanos, este também não é linear e está sujeito a paradas, retro- cessos, avanços, pequenos e grandes. (PEN- TEADO, 2001, p.17)
O que a passagem de um para outro momento nos revela sobre o sentido do percurso dessa pesquisa- intervenção? Do primeiro para o segundo momento caminhamos da incorporação progressiva de novos conhecimentos, procedimentos, atitudes, valores do primeiro momento, para a assunção da autonomia pro- fissional no segundo momento; deste para o terceiro, para a socialização da experiência e dos registros dos conhecimentos produzidos, ampliando a cultura musi- cal docente, fortalecendo a profissionalidade.
Desta pesquisa pode-se extrair princípios norteadores de Projetos de Formação Contínua de Educadores que trabalham com música na Educação Infantil e no Ensino Fundamental I, que:
• sejam construídos a partir dos docentes, de suas experiências profissionais, de seus conhecimentos e desconhecimentos de música e do ensino de música e que, sobretudo, sejam construídos com os próprios educadores da Secretaria Municipal de Educação: pro- fessores, ADIs (Auxiliares de Desenvolvimento Infantil
das creches) diretores de escola, supervisores de ensi- no, equipe técnica da SME; • privilegiem o lócus da escola como local de constru- ção, inscrevendo-se em seu Projeto Político Pedagógico e que sejam de realização interdisciplinar, envolvendo toda a instituição;
• sejam realizados no modo de “pesquisa-interven- ção”, procedimento este capaz de cobrir pontos funda- mentais em projetos de Formação Contínua de Educadores que trabalham com Música, quais sejam: 1. produzir relatório de pesquisa que apresente avalia- ção da vivência realizada;
2. articular o trabalho de ensino investigativo da rede pública com a Universidade, enriquecendo a produção de conhecimento de ambas as instituições e rompen- do com a produção verticalizada e a fragmentação entre a teoria e a prática, pela produção conjunta/cola- borativa/comunicacional de conhecimento;
3. dar conta de importantes funções de um ensino pro- dutivo de música: 3.1. aprendizagem de música como linguagem e forma de expressão artística, introduzindo música erudita, popular e de tradição, passando por diferentes moda- lidades;
3.2. que resulte na produção de conhecimento pelo docente sobre o ensino de música, no registro desse conhecimento produzido e em sua socialização através de publicação de artigos, da participação em encontros / congressos;
3.3. que se realize de forma contextualizada, envolven- do profissionais de música e amadores da comunida- de onde a escola se situa, sensibilizando essa mesma comunidade com apresentações de cultura musical. Inicialmente concebida ou para suprir lacunas da for- mação inicial, ou como atualização de conhecimentos específicos e pedagógicos, a formação contínua de educadores passa a ser concebida como importante fonte de produção de conhecimento, no caso sobre o ensino de Música. A realização de Projetos de Formação Contínua de Educadores tendo por meta a qualificação da profissionalidade docente sob a forma de “pesquisa intervenção”, esclarece uma concepção de Projeto distanciada de uma compreensão de “dono da verdade”, de “receita pronta e acabada” e a admis- são de que o processo de ensino-aprendizagem é sem- pre um acontecimento único, singular, no lócus de seu acontecimento e por essa razão, sempre um celeiro de produção de novos conhecimentos. <<
Iveta Maria Borges Ávila Fernandes - Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), Mestre em Artes pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECAUSP) e Professora do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
A tese na íntegra está disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-08122009-152940/

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