sexta-feira, 18 de junho de 2010

Biografia de José Saramago: Militância política

Nobel da Literatura ao lado de Jerónimo de Sousa


Biografia de José Saramago: Militância política
A militância no PCP, iniciada em 1969, foi a marca mais significativa da actuação política de José Saramago, com desempenho particularmente visível, polémico e suscitador de crítica no perído de 1974-1975. No entanto, muito antes de adesão ao PCP, manifestara já oposição à ditadura de Salazar, tendo sofrido represália do regime.

15h02
Nº de votos (0) Comentários (0) Por:José Luís Feronha


O primeiro sinal de acção política de José Saramago data de 1948-49, no âmbito da candidatura do general Norton de Matos a Presidente da República, em oposição ao candidato do regime, o também general Óscar Carmona. O corajoso acto custou o emprego a Saramago na Caixa de Abono de Família da Indústria da Cerâmica. Só no ano seguinte conseguiu nova colocação, na Caixa de Previdência da Companhia Indústrias Metálicas Previdente.


A adesão ao PCP, acontecida no ano seguinte à da substituição de Salazar por Marcelo Caetano em São Bento, foi feita pela mão do amigo Augusto Costa Dias, editor e escritor. Antes daquela data, Saramago já colaborara longamente com o PCP, conforme o próprio revelou. Aquando da filiação foi integrado numa célula de intelectuais, tendo dado provas de ser “bastante exigente e muito crítico”, segundo testemunho do escritor Urbano Tavares Rodrigues, que o caracterizou como “um militante exemplar, muito empenhado, capaz de uma entrega que ultrapassava todas as outras”.



O derrube da ditadura em Abril de 1974 abre um período de pouco mais de um ano em que alguns aspectos da militância de Saramago se tornaram conhecidos. O seu nome é citado como o do único militante que se opõe à eliminação da expressão “ditadura do proletariado” do Programa do PCP aquando do VII Congresso (extraordinário) em Outubro de 1974 no Pavilhão dos Desportos, em Lisboa, conforme confirmou o seu camarada António Vilarigues.

A actividade de director-adjunto que desenvolveu no ‘Diário de Notícias’ em 1975 ficou manchada por iniciativas cerceadoras da liberdade de expressão, área muito sensível na então jovem democracia portuguesa.


Em 25 de Novembro, as forças políticas com as quais Saramago comungava sofreram um sério revés militar. Afastado do jornal, sentiu-se ostracizado, inclusivamente pelo PCP, conforme disse em entrevista ao ‘Público’ (2006): “Claro que o meu partido não teve a gentileza de me convidar para ir para a redacção de ‘O Diário’, como fez a todos os que saíram do ‘Diário de Notícias’. Na altura não gostei nada. Hoje continuo a não gostar, mas agradeço.”

Depois de 1975, o autor exprimiu por vezes posições pontuais consonantes com as do espectro político à direita do seu partido, sem deixar no entanto de formular críticas ácidas às democracias vigentes que, em sua opinião, “não passam de plutocracias” (conferência ‘Lições e Mestres’, Santilhana del Mar, Espanha, Junho de 2007).



Um sinal forte de discordância em matéria do funcionamento interno do PCP foi esboçado por Saramago em 1988, ao subscrever o reformista Manifesto da ‘Terceira Via’. As três centenas de militantes que o fizeram reivindicavam maior democracia interna, em harmonia com os ventos da ‘perestroika’ soprados por Gorbachov na União Soviética.


No entanto, Saramago arrepiou caminho, deixando vago o lugar que lhe estava destinado numa importante reunião em 13 de Janeiro de 1990 destinado a lançar o novo Instituto de Estudos Sociais (INES). João Tunes, um dos entusiastas do referido movimento, afirmou mais tarde que Saramago “borregou”. Que aconteceu? “Constou, depois, que uma conversa ‘face to face’ com Cunhal tinha pacificado as suas [de Saramago] divergências”, afirmou aquele antigo membro do PCP.

O autor de ‘Levantado do Chão’ deu também nas vistas ao condenar abertamente a execução pelo regime de Fidel Castro de três cubanos que em 2003 sequestraram dezenas de compatriotas e turistas num barco, tentando fugir para os EUA. Cuba “perdeu a minha confiança, destruiu a minha esperança e traiu os meus sonhos”, escreveu então no diário espanhol ‘El País’.


Dois anos depois, no entanto, visitou a ilha, para apresentar ‘Evangelho Segundo Jesus Cristo’. Nessa ocasião voltou a elogiar o regime. E disse aquilo que as autoridades de Havana mais gostariam de ter ouvido: “A fisionomia fascista dos EUA hoje é bastante completa.”

Por vezes, Saramago revela-se muito incómodo, quando não provocador, para os poderes estabelecidos. Em 2002 causou clamor em Israel ao comparar “o espírito de Auschwitz [campo de concentração nazi] ao espírito de Ramallah [cidade palestiniana na Cisjordânia, ocupada por Israel]”. Em 2007, avançou com a previsão surpreendente da integração de Portugal em Espanha, conservando embora língua e tradições próprias, o que despertou imediatamente reacções contrárias, nomeadamente do Presidente Cavaco Silva.

Mais recentemente, novo sinal de moderação partiu do escritor, exprimindo apoio ao socialista José Luís Zapatero na corrida para renovação de mandato de chefe do Governo nas eleições legislativas espanholas de 9 de Março de 2008. A atitude contrastou com a do PCP, apoiante do PCE

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