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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Eunice Muñoz interpreta o comovente monólogo 'O Ano do Pensamento Mágico', de Joan Didion

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A actriz Eunice Muñoz interpreta o comovente monólogo 'O Ano do Pensamento Mágico', de Joan Didion. O espectáculo encenado por Diogo Infante estreia-se amanhã no Teatro Nacional D. Maria II, onde há também uma exposição dedicada a Eunice, e fica em cena até 20 de Dezembro

"A gente senta-se para jantar e a vida, tal como a conhecemos, acaba. Num instante muda tudo." Sentada no centro do palco do Teatro Nacional D. Maria II, no meio da escuridão, Eunice Muñoz dirige--se à plateia para contar a sua história. Começa com um aviso: isto também vai acontecer--vos, podem não saber quando nem como, mas vai acontecer-nos, acontece a todos sentirem a perda de alguém que amam.

Esta mulher - que é, na verdade, a autora do texto, Joan Didion - perdeu o marido, repentinamente, e perdeu a filha após dois anos de luta de hospital para hospital. Perdeu, sofreu e sobreviveu. "Pensavam que eu estava louca. Estive louca durante uns tempos mas agora já não estou."

Sobreviveu, primeiro, através de um pensamento mágico: apesar de saber que o marido, o também o escritor John Gregory Dunne, tinha morrido, alimentava uma secreta esperança de que ele voltasse. "Se eu não deitar fora os seus sapatos, talvez ele volte." Se autorizasse a autópsia. Se continuasse com a sua vida. Se. Este foi O Ano do Pensamento Mágico.

E sobreviveu, depois, através do discurso. Escrevendo e contando aos outros como sentiu estes acontecimentos e como foi na geologia que encontrou o significado das palavras do Testamento: "Como foi no início, como é agora e será sempre. Mundo sem fim." Haverá algo mais reconfortante do que saber que esta é a lei do mundo? Vivemos e morremos enquanto outros continuarão a viver. Agora e para sempre.

A par do espectáculo, que se estreia amanhã e estará em cena até 20 de Dezembro, o Teatro D. Maria II apresenta uma exposição dedicada a Eunice Muñoz. Aos 81 anos, a actriz regressa ao palco onde se estreou fará no próximo dia 23 exactamente 67 anos para interpretar um texto que já foi dito por Vanessa Redgrave. Diogo Infante, director do teatro e encenador do espectáculo, escolheu esta peça propositadamente para aquela que considera "a maior actriz do século XX": "Não se trata de dirigi-la, mas sobretudo de acompanhá-la num processo de criação". Eunice "está constantemente a questionar-se, vive desta inquietação", diz o encenador, elogiando "a sua capacidade para atacar um texto e viver uma história de tal forma pungente".

E a verdade é que a tímida e franzina Eunice Muñoz, que não gosta muito de falar sobre o seu trabalho e se assume, com humildade, uma actriz "muito obediente", que faz tudo o que o encenador lhe pede, se transforma completamente quando está em cena. Ali está uma mulher forte, emocionada e dorida, mas forte, que não se deixa dominar pela autopiedade. "Vai ficar tudo bem", repete. Mesmo quando sabe que não será exactamente assim.

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