BY UOL.COM.BR
Qual é o país de Antonio Dias? Consagrado artista brasileiro, desde 1966, quando foi morar em Paris graças a um prêmio da Bienal da capital francesa, não viveu mais no Brasil. Sua residência fixa é Colônia (Alemanha), onde chegou "com a queda do muro", mas ele também se alterna entre Milão (Itália) e Rio - sem contar ainda as estadas importantes, na década de 1970, em Nova York (EUA) e no Nepal (Índia). Nascido em Campina Grande, Paraíba ("em trânsito", brinca, porque sua família é de Alagoas), Antonio Dias desde criança é um nômade por necessidade e por natureza. "Na verdade, não consigo ficar em lugar nenhum", afirma ele, que escreveu em 1968, em uma tela minimalista, a frase em inglês "Anywhere is my land".
Agora, além de título de uma obra, essa inscrição virou parte de uma série de pinturas feitas com uso de sentenças para provocar a imaginação de todos e dá nome à exposição que Antonio Dias inaugura hoje na Daros Exhibitions em Zurique, na Suíça. É uma exposição antológica por se centrar em sua produção realizada nas décadas de 1960 e 70. Reafirma - no caso, na Europa - a importância do artista como um dos criadores essenciais de uma geração que trata a política na mesma linha em que inclui a poética e a ética (e exclui o panfletarismo), para além do território e das questões brasileiros. É sobre o lugar da arte (e do papel do artista), sempre, afinal, que a obra eclética e dinâmica de Antonio Dias, de 65 anos, está a confabular.
Sua última exposição antológica no Brasil ocorreu entre 2000 e 2001 e é sempre raro poder ver uma mostra com o peso que lhe é devido em sua terra natal. Sempre irônico e de poucas palavras , o que se vê em sua própria obra, Dias brinca que em Anywhere Is My Land, que ficará em cartaz até fevereiro de 2010, estão muitas das obras (incluindo ainda seus filmes em super-8) que ninguém se interessou em comprar na época. "Esses trabalhos não estão circulando há muito tempo", diz o artista. Suas obras dos anos 60 e 70, na mostra, quase 50 peças pertencentes ao acervo da Daros Latino America (leia mais abaixo), às coleções do casal Geneviève e Jean Boghici (primeiro marchand de Dias), do artista e de sua família revelam a passagem fundamental do brasileiro para a Europa.
Os trabalhos da década de 1960, realizados ainda no Brasil (período ditatorial), pinturas-objetos "confessionais" da época, de uma vertente figurativa inspirada nos comics (figuras de soldados e caveiras) e com simbologia referente à visceralidade do corpo, eram vistos, afirma Dias, como "violentos", "pornográficos". "Sempre procurei colocar no meu trabalho os problemas que eu vivia", diz o artista, emendando que, quando se mudou para a França, quis logo se afastar desse "tipo de imagem". "Lá eu via coisas mais explícitas (nas obras) que me incomodavam: fuzis na mão, bandeiras aqui e ali." Seus trabalhos, mesmo tendo uma riqueza material como característica e muitas simbologias, foram ganhando uma crueza formal. De sua estada na França, país que teve de abandonar porque não teve seu visto renovado, a obra História (1968), da Daros, é emblemática: um compartimento de plástico tendo em seu interior os restos e poeiras das "batalhas" políticas nas ruas de Paris daquele ano.
Já no fim dos anos 60 e na década de 70, Antonio Dias faz outra virada: para trabalhar no campo da "não-imagem", cria (meta)pinturas e instalações nas quais inclui a palavra (sentenças em inglês que fazem jogos de significados de cunho provocativo e poético). Dias já esteve em conversa com o curador Moacir dos Anjos para participar da 29ª Bienal de São Paulo, em 2010, mas o convite ainda não é oficial.
by uol
Nenhum comentário:
Postar um comentário